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Um centro cultural com um espaço social

biblioteca é a alma do CEBRAC de Zurique. swissinfo.ch

O Centro Brasileiro de Ação Cultural – CEBRAC – um cantinho do Brasil em Zurique, não só "promove, como valoriza e divulga" o idioma e a cultura da terrinha.

Este conteúdo foi publicado em 09. junho 2005 minutos

Também exerce uma função social, além de servir para matar saudades...

O local é modesto, em prédio de fundos, num subsolo. E a primeira coisa que o visitante vê é uma pia em um canto que pode servir de rústico bar. Na mesma sala está a biblioteca, "a alma do CEBRAC", segundo Lourdes Lobmeier, presidente da associação, e mestre em Suíça por residir no país há 30 anos.

Reunindo uns 5 mil livros – clássicos, best-sellers, autores na moda, como o inevitável Paulo Coelho – a biblioteca é bastante representativa de obras mais freqüentemente solicitadas. "Estamos tentando, e conseguindo, trazer os melhores livros do Brasil: os livros que estão na moda, os sucessos de venda, diz Nilce Cunha, a tesoureira da associação, com 4 "apenas" anos de Suíça.

Mas "os livros de auto-ajuda são muito procurados", constata Nilce, que é economista de formação. Ele observa também um interesse maior por DVDs, em particular os de programas e seriados da TV mais popular do Brasil.

"A quantidade de DVDs não é grande, mas é atual", garante. Já a busca de CDs e vídeos é bem menor, sendo também limitada a oferta nessa seção.

Dez anos de existência

Certamente conta para os brasileiros (e alguns estrangeiros) que vão ao Centro sentir-se num ambiente brasileiro; serem acolhidos por atenciosos voluntários – palavra que no CEBRAC, em geral, se declina no feminino – e poder falar o próprio idioma, numa cidade de língua muito distante do português, o que só dificultam os contatos.

E a biblioteca, a discoteca, a videoteca, a "devedeteca" – existe até uma modesta ludoteca – é uma chance que têm de cultivar as próprias raízes.

A importância de se manterem vidas a língua e a cultura brasileiras num meio pouco propício está à origem desse espaço cultural.

A preocupação de garantir o ensino do português a crianças brasileiras explica a existência desse Centro Brasileiro de Ação Cultural. Tudo começou, de fato, há dez anos, com aulas para crianças, compra de livros infantis, a formação de uma pequena biblioteca...

Não existia ainda um local com três salas como hoje na atual sede (na Quellenstrasse, n° 25), em Zurique, a maior cidade suíça. Com o correr dos anos, a biblioteca aumentou e foram aparecendo outras necessidades.

Um banho de alemão

Hoje, o CEBRAC conta com um quadro de uns dez voluntários e tem quatro pessoas na diretoria, sendo Lourdes Lobmeier e Nilce Cunha duas delas.

Das três salas do Centro, uma está ocupada pela biblioteca, uma outra, minúscula, é reservada para funções administrativas e a terceira tem função social mais marcante. Pode servir, por exemplo, também de sala de aulas para ensino do alemão. Inclusive para principiantes, de várias nacionalidades.

São cursos ministrados por uma suíça e uma alemã, sendo uma delas "mulher de teatro. Tudo é na base de muita brincadeira, de música... para tirar o medo de usar o alemão", avalia Lourdes.

Lembra também que "são apenas 10 aulas, à noite, para animar as pessoas a fazerem cursos regulares existentes por aí", diz. Em suma, para mostrar que a língua alemã não é um bicho de sete cabeças, embora, no início, possa assustar.

O CEBRA, respondendo ao qualificativo de cultural, abre as portas também a eventos como exposições, lançamento de livros; a palestras ou conferência de brasileiros "que queiram apresentar um tema interessante", acrescenta a presidente do Centro.

Serviço à comunidade

O local tem igualmente uma vertente social, prestando um enorme serviço no atendimento de de pessoas com os mais variados problemas.

Muitas pessoas que procuram livros ou DVDs acabam dividindo as próprias preocupações com o pessoal do Centro. Podem ser problemas corriqueiros, como onde registrar o filho na escola ou pedir ajuda para ler um documento em alemão. Ou, por exemplo, formalidades sobre o casamento.

Podem ser também casos mais graves, como de violência doméstica, ou de como regularizar – ou tentar regularizar – a intrincada questão da residência na Suíça. Os solicitantes podem ser gente dos mais diferentes meios, doutores ou analfabetos: "Gente de A a Z", como define Lourdes Lobmeier.

Ela deixa claro imediatamente que a regularização da estada no país é praticamente impossível se o solicitante não for estudante, não for casado/a com suíço/a ou não for altamente qualifidado/a.

Assistência limitada

É por esses vários tipos de problemas que existe no local um Centro de Encaminhamento (Cenca), também chamado de centro de triagem, "porque não resolvemos os problemas, apenas orientamos", insiste Lourdes.

Pode-se indagar que apoio o CEBRC, que não dispõe de recursos próprios, recebe para realizar essas diferentes atividades. O Consulado de Zurique reconhece o serviço prestado à comunidade brasileira, mas aparentemente não dispondo de verba, até agora se restringiu a dar duas remessas de centenas de livros.

Resta que a associação zuriquense realiza um trabalho que os responsáveis pela difusão da cultura brasileira – a Embaixada em Berna, no caso – poderiam apoiar de maneira mais decisiva.

Respaldo suíço

O apoio do lado suíço é qualificado de "expressivo" pela presidente Lourdes Lobmeier, mas limita-se a respaldar atividades de caráter integrativo. Para a biblioteca "não dão um tostão", observa; para os cursos de alemão, sim.

Apoio financeiro suíço é igualmente possível na área de alimentação e saúde. Mas são projetos trabalhosos, avalia a presidente, porque como devem ser elaborados em alemão acabam "dando um trabalho danado".

Resta tirar o chapéu para o que fazem os dez voluntários que, em Zurique, se sacrificam pela difusão da própria cultura e pelo bem-estar de seus compatriotas.

É o caso de Seu Paulo que há dois anos trabalha no CEBRAC todos os sábados, das 12 às 18 h. Faltou só duas vezes: uma por motivo de doença, e outra, por causa de mudança, constata Lourdes Lobmeier, com muita admiração.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa.

Breves

Criado, em Zurique, há praticamente dez anos, o CEBRAC – Centro de Ação Cultural de Zurique – exerce um papel importante para uma comunidade de centenas de brasileiros residentes na maior cidade suíça: manter laços com a própria cultura.

O Centro contribui também para a integração de pessoas que possam se encontrar um pouco perdidas num mundo diferente em que a língua, o alemão – ou melhor, dialeto local – é o primeiro obstáculo. Orienta ainda em problemas de ordem administrativa e social, graças à generosidade de uma dezena de voluntários.

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