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Trinta anos de cooperação Suíça-Moçambique

Armando Guebuza e Doris Leuthard durante coletiva de imprensa. Armando Munguambe

A ajuda ao desenvolvimento prestada desde 1979 pela Suíça a Moçambique mistura pioneirismo com experiências difíceis e reflete a história recente do país africano.

Este conteúdo foi publicado em 17. junho 2009 minutos

Berna faz um balanço da cooperação de 30 anos, que já totaliza um volume total de 700 milhões de francos (US$ 643 milhões), e adverte que não dá cheque em branco a Maputo.

A retrospectiva "Suíça-Moçambique: 30 anos de cooperação bilateral de 1979 a 2009", publicada pela Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA, na sigla em alemão) e a Secretaria Federal de Economia (Seco), pergunta quais foram os resultados de toda essa ajuda.

Os autores do relatório de 84 páginas admitem que "não é possível reduzir a um denominador comum 30 anos de desenvolvimento contraditório e inconstante num país enorme. Claro que Moçambique progrediu muito graças à ajuda internacional. Referimo-nos aqui à paz, à democracia, às melhorias a nível da saúde e do abastecimento de água, assim como à diminuição da pobreza. Mas é igualmente evidente que continuam a existir enormes desafios."

Guerra, catástrofes e transição política

Com 20,5 milhões de habitantes e uma renda per capita inferior a um dólar por dia, Moçambique é uma das nações mais pobres do mundo. O país do sudeste da África tornou-se independente de Portugal em 1975, perdeu mão-de-obra qualificada pelo êxodo de portugueses, foi destruído por uma guerra civil alimentada pela África do Sul e Zimbábue (ex-Rodésia) e , mais tarde, castigado por secas e enchentes (veja galeria de fotos na coluna à direita).

A atuação helvética no país, que remonta à Missão Suíça de 1880, foi retomada em 1979 com o início das relações bilaterais e concentrou-se inicialmente na ajuda humanitária, no abastecimento de água, na área da saúde e na infra-estrutura.

O fato de a Suíça ter oferecido ajuda logo após os 15 anos de guerra (1976-1992) criou uma base de confiança para Berna intermediar no processo de paz a partir do início dos ano de 1990, bem como para participar da desmobilização e reintegração dos soldados à sociedade civil.

Pioneirismo e "imperfeições"

O desenvolvimento político reflete-se de diferentes formas no engajamento suíço. Berna mostrou coragem, por exemplo, ao apoiar cedo o Instituto Nacional de Desminagem (IND) - ainda existem cerca de 450 campos de minas por desminar até 2014 - e a formação de técnicos moçambicanos, ou ao conceder a pequenos empresários créditos facilitados, antes só obtidos após longa espera.

Os autores da retrospectiva de 30 anos, no entanto, relatam que Berna também pisou em terreno político minado: "Apesar de todo o idealismo não podemos esquecer que, ao apoiar a Frelimo (Frente da Libertação de Moçambique), a Suíça apoiava um parceiro que não media os meios para atingir os seus objetivos de remodelação da sociedade segundo os seus ideais. A Frelimo, por exemplo, pressionava as populações a mudarem-se para aldeias comunitárias nas quais havia abastecimento de água potável e serviços de saúde, estradas e uma escola. Esta iniciativa, em princípio louvável, fazia pouco sentido se, devido a isso, as pessoas acabassem por ficar separadas das suas terras. Para além disso, as mudanças destruíam as estruturas tradicionais e provocavam danos sociais, em parte ainda hoje palpáveis. A Suíça distanciou-se de protestar contra tais práticas ou de exercer pressão política. Naquela altura, parecia mais importante apoiar o renascimento do país, algo muito positivo mas aparentemente sempre em risco, do que denunciar imperfeições." (página 23)

A ajuda suíça, que hoje gira em torno dos 30 milhões de francos ao ano e já soma cerca de 700 milhões, só aumentou quando o governo da Frelimo abandonou oficialmente o marxismo em 1989 e na Constituição aprovada no ano garantiu eleições livres num sistema multipartidário e de economia de mercado.

Diminuir a dependência externa

A Suíça passou a apoiar então um programa do Banco Mundial para amenizar o impacto das reformas estruturais, que teve sucesso "apenas moderado". Na última década, "Moçambique passou por uma tríplice mudança: da guerra para a paz, do socialismo à economia de mercado, do sistema de partido único para a democracia", constata a DEZA.

Somente de 2000 a 2007, a Suíça concedeu ajuda financeira de 190 milhões de dólares ao país, sendo 28% de apoio orçamentário, 21% para a descentralização política e governança local, 19% para o setor de saúde, 11% para o desenvolvimento econômico e 21% para projetos diversos, inclusive de ONGs. No mesmo período, a Noruega, por exemplo, ajudou com 437 milhões de dólares.

Moçambique recebeu apoio internacional no valor de 11 bilhões de dólares entre 2000 e 2007. Apesar de ter feito progressos, metade do orçamento do país continua dependendo da ajuda externa. Intelectuais moçambicanos acreditam que essa dependência poderia ser diminuída pela derrubada do protecionismo europeu e através de mais investimentos, como pediu o presidente Armando Guebuza em sua visita a Berna (16/6).

"Trinta anos a pedir apoio cria uma dependência mental que anula o espírito do 25 de Junho de 1975. (...) A verdadeira ajuda será não dar mais, mas lutarmos juntos, europeus e africanos, para mudar esta teia de relações", diz Mia Couto, escritor e professor de Biologia da Universidade de Maputo.

Desde 1996, a Suíça apoia uma reforma fiscal para diminuir a dependência externa do país africano. Berna pretende continuará apoiando Moçambique também no futuro com um programa que abrange a área social (especialmente o setor de saúde), a descentralização administrativa e o setor produtivo.

"O apoio, no entanto, não acontece na forma de um cheque em branco. Assim, por exemplo, o apoio orçamentário está vinculado a um diálogo intenso com o governo. Temas como corrupção, transparência, prestação de contas à população são abordados sistematicamente. O governo é obrigado a atingir metas claramente definidas", diz um comunicado conjunto da DEZA e da Seco.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Ajuda suíça ao desenvolvimento

A Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA, na sigla em alemão) atua desde 1979 em Moçambique. No início, a ajuda era apenas humanitária. A partir dos anos 1990, o governo suíço começou a expandir seus programas.

A Suíça teve um importante papel na implementação do acordo de paz de 1992. Ele previa a desmobilização e integração à sociedade de ex-soldados rebeldes. Depois das inundações de 2000, a Suíça atuou também na ajuda humanitária e nos trabalhos de reconstrução.

Os principais setores de atuação das agências suíças em Moçambique são saúde, desenvolvimento econômico, governabilidade e projetos educativos.

Com um volume de 30 milhões de francos suíços (US$ 27,6 milhões) de ajuda por ano, Moçambique representa o mais importante país nos programas helvéticos de cooperação.

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