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Suíça proíbe importação de carne brasileira

Em 2004, a Suíça importou 9.224 toneladas de carne de boi, grande parte do Brasil. Keystone

Pouco depois da descoberta de focos de febre aftosa no Brasil, a Suíça bloqueia parte da importação de carne bovina do Brasil.

Este conteúdo foi publicado em 19. outubro 2005 minutos

O mais importante exportador para a Suíça perde posição para outros produtores como Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em meio ao medo do avanço da gripe aviária na Europa, que parece estar saindo do controle e inflando as manchetes dos jornais, o anúncio publicado na quinta-feira passada (14.10) pelo Departamento Federal de Veterinária da Suíça não provocou polêmica.

Nesse dia, o governo declarou a proibição da importação de carne bovina originária de três estados brasileiros – Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná – onde foram descobertos focos de febre aftosa no início de outubro. O bloqueio é válido para todos os produtos feitos a partir de animais que foram abatidos depois de 30 de setembro.

O Ministério da Agricultura no Brasil confirmou nesta segunda-feira a existência de mais três focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Um deles foi encontrado novamente em Eldorado, na fazenda Jangada, com rebanho de 3.548 animais. Outros dois focos foram registrados nas fazendas Santo Antônio e Guaíra, ambas no município de Japorã. São fazendas de pequeno porte.

Substitutos em outros países

Apesar do Brasil ser um dos mais importantes fornecedores de carne bovina para a Suíça – dois terços – o consumidor helvético não terá problemas de fornecimento.

- Caso a medida dure muito tempo, podemos importar carne bovina de países como a Argentina, Uruguai e Paraguai – explica Balz Horber, presidente da Associação Suíça de Açougues.

Em 2004, a Suíça importou 9.224 toneladas de carne bovina, sendo que três quartos vieram do Brasil. A parte de carne nobre importada, como filé, foi de 3.869 toneladas, o que corresponde de 30 a 40% das carnes nobres consumidas no país.

Também os produtores da chamada "Bündnerfleisch", uma especialidade suíça feita a partir de carne seca, não temem problemas de abastecimento. A metade da carne utilizada na sua produção é importada, sobretudo do Brasil. Porém a oferta internacional não se restringe apenas a um país.

- Existem outros mercados para nos abastecer, como alguns países na América do Sul – afirma Andréa Mani, da Associação de Produtores de Bündnerfleisch.

Até ontem (17.20), outros 32 países já haviam decretado o embargo total ou parcial da carne brasileira: 25 países da União Européia, Rússia, África do Sul, Chile, Argentina, Uruguai, Cuba e Israel.

Na Suíça, a carne brasileira das regiões atingidas só poderá ser importada quando o problema for resolvido.

- O Brasil precisa agora provar que conseguiu eliminar o vírus. Vamos aguardar a análise das autoridades européias para tomar uma decisão – declara Marcel Falk, do Departamento Federal de Veterinária.

Combate da febre aftosa

Após a descoberta de novos casos no Mato Grosso, o governo brasileiro proibiu o abate do gado nas regiões atingidas e fixou uma zona de segurança de 25 quilômetros em volta das fazendas onde o vírus atingiu animais, incluindo também restrições à circulação de gado e produtos agrícolas.

Num programa de rádio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ao falar sobre o problema, que "o Brasil tem por compromisso ético internacional comunicar imediatamente quando há um caso desse. Esse foco já foi debelado. Já matamos todas as reses e já fizemos as barreiras nas fronteiras".

Os focos de febre aftosa já condenaram 5.227 bovinos. O presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Cote da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil), Antenor Nogueira, estima em mais de R$ 1,5 milhão a perda dos produtores afetados. A perda do país com os focos de aftosa, que levaram a suspender patê da exportação, é estimada em até US$ 3 bilhões.

swissinfo com agências

Breves

Descoberta: a febre aftosa foi descoberta na Itália no século XVI. Está presente de forma endêmica em regiões da Ásia, América do Sul, África e Oriente Médio. Houve surtos na Grécia,Taiwan,Argentina, Brasil, Uruguai, Japão e Reino Unido.

Sintomas: a febre aftosa é talvez a doença mais temida pelos pecuaristas. Nos animais, ela provoca afta na boca e na gengiva, além de feridas nas patas e nas mamas. A vaca fica em estado febril, não consegue pastar, perde peso e produz menos leite. Já nos humanos, são raros os casos de contaminação, mas eles não podem ser descartados. Os sintomas são febre leve e calafrios, bem como bolha nas mãos e na boca. Contudo, a doença não chega a provocar risco de morte entre os humanos.

Contaminação: os animais que podem ser contaminados pelo aftovírus são bois, porcos, cabras e ovelhas. No caso dos humanos, a contaminação é bem mais difícil e só acontece se a pessoa ficar em constante contato direto com animais contaminados.

Transmissão: o aftovírus pode ser transmitido pelo leite, carne e saliva do animal doente. A doença também é transmissível para animais pela água, pelo ar e por objetos e locais sujos. Humanos não transmitem o vírus entre si, mas podem levar na roupa, caso tenham entrado em uma área onde há aftosa.

Prevenção: não existe tratamento contra a Febre Aftosa e sim medidas preventivas específicas pelo uso de vacinas. No Brasil, o processo mais aconselhável é a vacinação periódica dos rebanhos, assim como a imunização de todos os bovinos antes de qualquer viagem. Em geral a vacina contra a febre aftosa é aplicada, de 6 em 6 meses, a partir do 3º mês de idade.

* publicado no Estado de São Paulo, 17 de outubro.

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