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"Jornalismo como ponte entre as culturas"

O interesse da jornalista suíça Maurine Mercier pela cultura nasceu durante os seus estudos no Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais em Genebra. Hoje, a ex-repórter de guerra quer dar voz aos muçulmanos.

Este conteúdo foi publicado em 19. junho 2018
Rashid Khechana, Tunis
Maurine Mercier trabalhou durante alguns anos para mídias suíças na Tunísia. Ao fundo, o bairro de Chalk El-Wadi, ao norte de Túnis. swissinfo.ch

Mercier não hesitou nenhum segundo ao receber uma proposta de ir para a Tunísia como correspondente do canal francófono da Televisão Pública Suíça (RTS, na sigla em francês). Hoje a suíça viaja bastante a países como Tunísia e Líbia para produzir o seu noticiário. 

Seu programa é transmitido geralmente pela manhã, entre as seis e nova horas. Nele, ela esclarece questões políticas e sociais da região de uma forma clara ou entrevista personalidades desses dois países. Por vezes, ela também participa de programas de rádio entre seis e sete da noite, por vezes até mais tarde na noite. 

As opiniões manifestadas neste artigo, dentre outros sobre o país de acolho e sua política, são pessoais e não correspondem às posições da plataforma de informações swissinfo.ch.

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Ela é filha de um suíço e uma canadense de Quebec. Em 2014 ganhou um prêmio de melhor jornalista local, na categoria "rádio". O júri a premiou devido a uma reportagem sobre uma colisão de trens em Granges-près-Marnand, no cantão do Valais (sul) em julho de 2013. Nele, os condutores puderam dar o seu ponto de vista sobre o acontecimento. Em outra reportagem, ela noticiou da Ucrânia sobre o conflito entre separatistas e ucranianos em Donezk e também de muitas outras regiões em guerra no mundo.

 

Questionada pela razão de ter abandonado carreira e sucesso na Suíça para emigrar à Tunísia, ela responde: "Depois de ter trabalhado como correspondente da RTS, eu me mudei em maio de 2016 para me tornar correspondente na Tunísia. Isso me possibilitou acompanhar acontecimentos internacionais como o atentado cometido contra a redação do Charlie Hebdo em Paris". Foram acontecimentos capazes de causar pesadelos em qualquer pessoa, acrescenta Mercier.

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Além disso ela tinha outra motivação: durante o seu trabalho como jornalista da redação internacional da RTS, o continente europeu viveu muitos atentados terroristas. Ela considerou que o noticiário sobre esses acontecimentos dava uma imagem deturpada dos muçulmanos, pois eles não recebiam espaço nas mídias para dar o seu ponto de vista.

"Especialmente nesses momentos difíceis é que o jornalista tem a obrigação de dar uma voz para os muçulmanos", afirma Mercier. "E isso pode ser feito lhes dando espaço nas nossas mídias, construindo dessa forma uma ponta entre o Ocidente e o mundo islâmico."

Pelo contrário, o noticiário sobre os atentados coloca na mesma tigela muçulmanos e terroristas. "Essa forma de não diferenciação é incorreta e perigosa. Por isso faço atenção no meu trabalho para explicar as coisas e separar o que não pertence, evitando essa mistura complicada", avalia Mercier, cuja melhor amiga é argelina.

País esquecido

Seu principal objetivo como jornalista é dar um espaço aos que não são escutados. "A Líbia é um país que foi esquecido pela Europa e encontra-se em guerra". Mesmo se a viagem entre os dois países é bastante cansativa, a suíça não reclama. "É importante escrever sobre esse país isolado". O mesmo vale para a Tunísia.

Seu interesse pelos conflitos do mundo, como o da Ucrânia ou Líbia, deve-se a sua curiosidade inata. Ela quer compreender o que está por trás dos acontecimentos. Seu pai, nascido em 1939, lhe transmitiu os ensinamentos do humanista Jean Monnet.

Entre Sirte e Misrata, Maurine Mercier entrevistando um líbio. swissinfo.ch

Isso influencia o trabalho de Mercier? "Quando contei aos meus amigos que me mudaria para a Tunísia, muitos ficaram com medo por mim. E olha que venho de um meio de pessoas informadas", diz.

Existem diferenças entre seu trabalho na Tunísia e na Líbia. "Na Líbia não tenho problema para visitar pessoas nas suas casas, mesmo sendo mulher. Um produtor sempre me acompanha", conta. Ela sente a confiança dos entrevistados. Além disso, a suíça se surpreende ao ver como jovens homens choram ao falar da revolução. "Eles dizem que não poderiam fazer o mesmo frente às suas esposas."

Sua condição de uma mulher noticiando sobre a Líbia é, para ela, uma vantagem. "Em uma situação excepcionas há menos circunspeção em relação às mulheres do que aos homens". Porém ela considera importante respeitar os hábitos e leis sociais. Então ela cobre o cabelo e usa roupas longas ao trabalhar em Misrata. Na Tunísia, por outro lado, ela se move livremente e relaxada.

Ponte entre as culturas

Mercier considera uma obrigação para ela compreender a cultura local. Só assim o jornalista pode atuar como uma ponte entre as duas culturas. Por isso ela pediu férias sabáticas antes de chegar à Túnis, quando então aproveitou para aprender a cultura e o idioma. O jovem líbio que a acompanha nas reportagens trabalha também como tradutor.

Questionada se não perdeu as esperanças, ela responde sem hesitar: "Pelo contrário, pois senão já teria partido". Hoje aprendo sempre coisas novas das pessoas, sejam homens ou mulheres. "Eu gostaria de ficar aqui e me aprofundar ainda mais na cultura e no país", responde ao falar do futuro. "Eu poderia aprender ainda muitos mais sobre a país e o movimento feminista. Eu gostaria de cobrir toda a região como correspondente, indo do Marrocos até a Líbia."

Eletricidade sentida

Sua paixão pela África do Norte é descrita por ela "como uma espécie de eletricidade", que se intensificou especialmente depois da chamada Primavera Árabe. Porém seus sentimentos não se limitam aos elementos culturais, sociais e profissionais, mas sim também ao clima agradável e a posição geográfica e estratégica dessa região do globo.

Mesmo se a jornalista só cobre acontecimentos da Tunísia e Líbia, ela precisa estar informada sobre desenvolvimentos e mudanças que ocorrem em toda a África do Norte. As mídias para as quais ela trabalha se interessam especialmente pelos movimentos migratórios que partem dessa região, atravessam o Mediterrâneo e chegam ao sul da Europa.

Mercier vive em La Goulette, um bairro localizado ao norte de Tunis. A cidade com seu caráter mediterrâneo, com sua antiga fortaleza espanhola, muros brancos e cores fortes lembra lugares como Nicósia, Malta, Sicília ou Córsega. Talvez seja esse charme único que levou essa jovem de Lausanne a se instalar por lá.

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