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Projetos cada vez mais extremos para o Jungfrau

A Companhia de Trem do Jungfrau irá comemorar no ano que vem 100 anos de existência. Keystone

O Jungfraujoch, um dos locais mais visitados da Suíça, deverá em breve ser ponto de partida de uma nova linha de trem subindo até 3.700 metros.

Este conteúdo foi publicado em 12. setembro 2011
Ariane Gigon, swissinfo.ch

É necessário fazer tantos sacrifícios pelo turismo de massa? Um observador privilegiado coloca questões que incomodam.

"Dentro de alguns anos, as massas escalarão o cume. Lá onde reina hoje em dia um silêncio cerimonioso haverá assobios e ruídos". A crítica, feita por um membro do Clube Alpino Suíço, referia-se ao Jungfrau e data de 1894. Seu autor rejeitava claramente o projeto de construção de uma linha de trem até o Jungfraujoch, um passo entre as montanhas Mönch e Jungfrau nos Alpes bernenses, para a qual o industrial zuriquense Adolf Guyer-Zeller acabava de entregar um pedido de concessão ao governo federal.

Mas, como lembra a Companhia de Trens do Jungfrau (JBH, na sigla em francês) na sua documentação para o centenário da inauguração do trem, as críticas seriam limitadas a um grupo restrito de pessoas. O entusiasmo dos habitantes dos Alpes bernenses para um projeto que garantiria, aos seus olhos, o turismo no vale, acabaria sendo aprovado. A linha foi então inaugurada em 1° de agosto de 1912.

O centésimo aniversário 

Foi ao anunciar as festividades organizadas pelo centésimo aniversário que a JBH revelou seus projetos futuros. "Nós precisamos continuar sendo atraentes para os novos mercados", explicou o diretor Urs Kessler durante uma coletiva de imprensa no final de agosto em Zurique. Os turistas asiáticos, sobretudo os oriundos do Japão, Coréia do Sul e Índia, são os primeiros a serem citados.

Uma nova estação de chegada receberá os turistas a partir do final de fevereiro de 2012 e, a partir de 1° de abril, uma nova galeria com escada rolante será inaugurada. "Não podemos propor excursões a pé a todos os turistas asiáticos", reforça Kessler.

"O conforto dos turistas é apenas um pretexto", reage Benedikt Loderer, arquiteto, escritor, fundador da revista "Hochparterre" e também observador de tudo o que diz respeito à modificação da paisagem na Suíça. "O que os promotores querem é que os turistas sejam mais rápidos, para que possam receber um número cada vez maior."

A empresa JBH não nega que um dos quesitos no projeto também é a velocidade, mas uma velocidade de outro tipo. "Os turistas não têm mais o mesmo orçamento em tempo e finanças como no passado", retruca Urs Kessler. "Eles querem ver mais coisas em um tempo limitado."

Escada rolante 

A escada rolante, dentro de um túnel, passará entre as explicações sobre a construção da linha e sobre o desenvolvimento do turismo alpino. Ela permitirá também melhorar a fluidez dos movimentos. "Teremos dessa forma um percurso circular", explica o diretor. "Hoje os turistas vão e voltam do 'Palácio do Gelo' (n.r.: galeria construída em uma geleira) e o terraço pelo mesmo caminho". A nova galeria está orçada em 16 milhões de francos.

Mas a companhia do Jungfraubahn quer ir ainda mais longe. Em 2015 ou 2016, uma extensão do trem a cremalheira deve levar os visitantes até um ponto mais alto da montanha localizado a 3.700 acima do nível do mar, o "Ostgrat", ocupado atualmente por uma estação da empresa de telecomunicações Swisscom, que prevê abandoná-lo a partir de 2013.

Diversão 

"Estamos preparando uma atração que será tão interessante como a pintura da Mona Lisa em Paris", anuncia Urs Kessler. Um concurso de arquitetura será lançado. Em abril passado, a companhia não havia excluído aumentar as tarifas para financiar seus projetos.

Enquanto os objetos decorativos e outros brindes, como vacas coloridas, do Jungfraujoch não chegam a agradar a todos, se o local oferece aos visitantes um filme do panorama local caso o tempo esteja muito encoberto, a questão da pertinência desses projetos em relação à "natureza bruta" podem ser legitimamente colocada.

Benedikt Loderer analisa de forma crítica essa evolução. "As margens de lucro diminuem e os responsáveis desses lugares turísticos precisam  oferecer mais. Na era do 'funitis' (n.r.: traduzido por mania de diversão), o puro prazer da natureza não é suficiente, especialmente quando cresce a concorrência entre a neve e a praia para atrair os turistas."

No entanto o principal objetivo é "atrair as massas". A beleza das montanhas correria o risco de ser prejudicada? "Em minha opinião ainda estamos longe disso. De todas as maneiras, as reflexões dos protetores da natureza não têm nenhuma importância em relação aos debates sobre o turismo", critica Benedikt Loderer. "A montanha Cervino continua muito bonita mesmo se o vilarejo do Zermatt está cheio de horríveis blocos habitacionais."

Turismo sustentável 

A discussão sobre o "turismo sustentável", com infraestruturas compatíveis com a proteção da natureza, cresce. Benedikt Loderer não concorda. "É um discurso desesperado, que não diz respeito à zona situada no limite das quedas de neve. Acima dos 1.500 metros esse discurso não tem peso."

Enfim, para o observador, uma "sociedade a duas velocidades" já começou a se firmar nos Alpes: "Os grandes centros vão se desenvolver e os pequenos vão perder espaço. Ora com a mudança de utilização dos lugares de altitude média, nós corremos o risco de ver o reaparecimento da pobreza. Mas ninguém se questiona se seria grave ver surgir regiões baldias nos Alpes, vilarejos abandonados nos locais onde a neve não cai mais."

Sobre ver se nos Alpes bernenses, o desenvolvimento do projeto do novo trem à cremalheira suscitará as mesmas críticas que em 189. Essas críticas, que continuaram minoritárias face ao entusiasmo nascido do lançamento do serviço de trem e da estação mais elevada da Europa, existem há quase cem anos.

História da ferrovia

A Jungfraubahn é uma linha ferroviária nas montanhas do cantão de Berna. Ela parte da localidade de Kleine Scheidegg, passa pelos montes Eiger e Mönch e segue até o cume do Jungfraujoch, superando uma diferença de altitude de 1.400 m num trajeto de 9 km.

Os primeiros projetos para uma ligação até o Jungfraujoch fracassaram por volta de 1860. Em 1894, o industrial Adolf Guyer-Zeller obteve do Conselho Federal (governo) uma concessão para construir a ferrovia.

Dois anos depois, começaram as obras da linha de trem a cremalheira, encravada nas rochas. Muitos trabalhadores italianos participaram da construção.

Em 1912, foi inaugurada a estação ferroviária mais elevada da Europa, a 3.454 metros de altitude. Os custos da obra foram estimados à época em 14,9 milhões de francos.

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Grande sucesso

Aproximadamente 700 mil pessoas sobem ao Jungfraujoch anualmente para apreciar a vista sobre a geleira do Aletsch, tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO, além de admirar o cenário alpino.

No primeiro semestre de 2011, os lucros da companhia Jungfraubahn (JBH) aumentaram em 23,9% em relação aos primeiros seis meses do ano passado, chegando a 11,2 milhões de francos.

Cerca de 313.600 pessoas estiveram no Jungfraujoch, ou seja, 48.500 a mais do que em 2009.

A Ferrovia do Jungfrau aproveitou da fraqueza do euro em relação às moedas asiáticas: as viagens na Europa se tornaram baratas para os turistas asiáticos e um passeio ao Jungfrau continua sendo uma das grandes atrações, apesar do franco valorizado.

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