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Montreux cura ressaca de Brasil

Carlinhos Brown animou a platéia em Montreux (foto: Montreux Jazz Festival) Montreux Jazz Festival

A Copa foi perdida, mas a música brilha em Montreux. Durante dois dias, os brasileiros deram o ritmo de um dos festivais de jazz mais conhecidos no mundo.

Este conteúdo foi publicado em 10. julho 2006 minutos

Carlinhos Brown, Martinho da Vila, Maria Rita, Leci Brandão, Ney Matogrosso, Margareth Menezes e até mesmo o ministro da Cultura Gilberto Gil foram as estrelas que afagaram o coração do torcedor.

O clima é de luto pós-Copa. Ao contrário dos anos anteriores, a 40ª edição do Festival de Jazz de Montreux não está servindo de palco de celebração para o verde e amarelo varonil. Mesmo nos dias brasileiros, os brazucas se misturam na massa. Alguns usam até camisas da seleção italiana. O negócio é esquecer o futebol e cair no samba.

Mas não é completamente verdade: no meio da multidão, que passeia entre as barraquinhas de comidas exóticas e artesanato nessa cidadezinha de 23 mil habitantes às margens do lago Léman, se vê, espaçadamente, uma ou outra camisa com as cores nacionais. Porém as feições européias das pessoas que as carregam revelam mais um europeu apaixonado pelo Brasil ou pela música brasileira. Esta não sofre dos azares do jogo e brilha mais do que nunca.

"O Brasil é um pais vitorioso, gente. Esqueçam a Copa e acreditem no nosso país", clamou o baiano Carlinhos Brown à platéia durante sua animada apresentação na segunda noite brasileira, ocorrida no sábado (7 de julho).

Conhecido internacionalmente e parceiro de outras estrelas da MPB, Carlinhos Brown e sua banda foram os primeiros subir no palco nesse dia. Durante os cinqüenta minutos de show, ele dançou, cantou e tocou vários instrumentos, mostrando também que sua música não se limita às fronteiras culturais da Bahia, mas já passeia entre os ritmos do Caribe e também do tecno. Em francês quase fluente, ele chegou a colocar o público para dançar e se movimentar no ritmo de sucessos como "Água Mineral" ou "A Namorada".

Força da negritude

Depois que Carlinhos Brown se despediu do público, quem subiu ao palco foi uma das vozes femininas mais fortes da MPB: a cantora afropop Margareth Menezes. Seu show foi a execução do mais puro samba-reggae, que animou a grande platéia de brasileiros presentes no festival em Montreux. "Para mim ela traz o carnaval, que há muito tempo eu já não consigo festejar", disse Cláudia, uma brasileira que vive há cinco anos na Suíça e que não parava de dançar no camarote da imprensa.

A enérgica baiana tocou várias composições do seu último CD, intitulado "Pra você", como "Como Tu" e "Abanaê", mas também antigos sucessos como "Sou Araketu" e "Ilê que fala de amor".

A noite terminaria com o show do ministro da Cultura do Brasil, o também baiano Gilberto Gil, que também decidiu enxugar as lágrimas dos torcedores brasileiros presentes no festival. "O Brasil não ganhou na Copa, mas a nossa música já é vitoriosa. Vamos dançar gente", convidou o músico, que também revelou ao público que comemorou os 64 anos durante um concerto em Londres.

Mesmo com o cargo político e a idade veterana, Gilberto Gil parece que não mudou durante os anos. Magro, cabelos rastafari pregados numa trança, o baiano estava acompanhado por um naipe de conhecidos músicos brasileiros como Sérgio Chiaavazzoli e Bem Gil (guitarras), Arthur Maia (baixo) Jorge Gomes (bateria), Cláudio Andrade (teclas) e Gustavo di Dalva (percussão).

O show foi um desfile de antigos sucessos como "Toda menina baiana" e "Andar com fé", além de sucessos do reggae como "Positive Vibration" e "Could you be loved", duas composições do Bob Marley, e "Alagados" do Paralamas do Sucesso.

Gilberto Gil se despediu do palco, onde já tocou oito vezes, recebendo um chocolate gigantesco das mãos do Claude Nobs, organizador e fundador legendário do Festival de Jazz de Montreux.

Martinho da Vila e Maria Rita

Se sábado (8 de julho) foi marcado pelos ritmos baianos, sexta-feira (7 de julho) foi dedicado ao samba e a música intimista. Ela foi tocada por instrumentos acústicos e até mesmo deixando de lado a percussão.

Esse foi o estilo escolhido pelo primeiro músico a se apresentar no dia, Ney Matogrosso. Acompanhado por apenas quatro artistas do violão - Ricardo Silveira, Marcello Gonçalves, Pedro Jóia e Zé Paulo Becker – ele se despediu das extravagâncias de roupas e trejeitos, para centralizar sua arte apenas no canto.

O repertório especial trouxe canções conhecidas como "Viajante", "Tanto Amar" ou "Rosa de Hiroshima", sempre embaladas nos novos arranjos feitos pelos violonistas.

O terreno já estava preparado quando entrou a cantora Maria Rita e banda no palco. Já a imprensa se perguntava se os suíços teriam em Montreux uma música independente dos passos da família famosa. Descalça, ela dançou e cantou durante cinqüenta minutos. Vinte sete anos antes, sua mãe, Elis Regina, cantava exatamente no mesmo espaço.

Porém Maria Rita não esconde que tem uma voz parecida, mas segue por novos caminhos musicais. Em "A Festa", uma canção de Milton Nascimento" adaptada sobre a canção "La Bamba", ela solta a voz sob um ritmo latino. Já no "Lavadeira do Rio", uma composição de Lenine, ela deu uma performance que convence a todos que o abandono da carreira de jornalista pelo de música não foi um erro. Com ela a MPB ganhou mais uma bela voz feminina.

A noite terminou com um veterano sambista, um legítimo carioca, Martinho da Vila. Acompanhado por vários músicos e que incluíam até mesmo a própria filha, ele desfilou o repertório do "Brasilatinidade", seu último CD. Nesse trabalho, Martinho da Vila traz sambas e ritmos de países com língua originária do latim, como o fado português e a salsa espanhola.

"Feitiço da Vila" e "Suco de Maracujá" foram cantadas bem devagarinho e ritmado, no famoso estilo malandro de Martinho da Vila. De chinelos, ele estava bem à vontade no palco. Quando estava cansado, sentava num banquinho como se estivesse num botequim. Esses momentos eram tomados por outros músicos convidados, como a veterana Leci Brandão, a sambista com mais de trinta anos de carreira e que foi criada no berço dos grandes sambistas cariocas, a Mangueira.

"Devagar, Devagarinho" e "Canta, canta, minha gente", hinos à alegria, levantaram a moral de muitos brasileiros presentes, que pareciam querer esquecer a derrota trágica da seleção canarinho.

swissinfo, Alexander Thoele

Fatos

O 40. Festival de Jazz de Montreux encerra em 15 de julho.
Três espaços independentes apresentam músicos de todos os gêneros: Auditorium Stravinsky, Miles Davis Hall e também o Casino Barrière, onde ocorrem os concertos mais voltados para o jazz.
Nas áreas externas do festival se apresentam gratuitamente dezenas de grupos, incluíndo alguns do Brasil.
Em novembro, os organizadores irão lançar o livro "Montreux Jazz Festival, 40th", uma obra de 1.200 páginas assinada pelo escritor Perry Richardson, onde os quarenta anos do festival são retratados em detalhe.

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