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Jogo da esperança para os sem-teto do mundo

A equipe suíça jogando contra os atletas da Namíbia. blog.strassensport.ch

O Campeonato Mundial dos Sem Teto, em Milão, reúne os times de 48 países, dos cinco continentes.

Este conteúdo foi publicado em 09. setembro 2009

De Gana às Filipinas, do Brasil à Austrália, passando pela Suíça que participa com uma seleção de Zurique.

O titulo "sem teto" na realidade abraça as mais diferentes questões sociais e não se refere apenas a quem não tem uma casa para morar, um dos problemas principais nas nações ricas, ao lado das drogas. Mais de 500 jogadores estão presentes ao evento. O time helvético comparece com uma seleção de oito atletas, entre titulares e reservas.

Os goleiros Kiflom e Urs e os atacantes e zagueiros Nathan, Hayelom, Ivan, Julien, Jan e Santiago representam o país. A faixa etária vai dos 16 aos 40 anos. O time espelha ainda a sociedade multiétnica do país. Apenas dois jogadores são suíços de nascimento. Os outros têm origem colombiana, chilena, francesa e eritréia. E se entendem em alemão, inglês, francês e um pouco de italiano.

O objetivo da Homeless World Cup Milano 2009, pelo sétimo ano consecutivo, é o de ajudar a resgatar a dignidade e a cidadania de quem foi marginalizada pela sociedade, por um motivo ou outro, como dependência do álcool ou da droga, vitima de desagregação familiar ou carestia. E ainda incentivar e estimular quem ainda sofre na pele a discriminação racial e o preconceito social. "Ao contrario de países como o Brasil, África do Sul, não temos favelas, mas a falta trabalho, tempo dos pais para estarem com os filhos, o isolamento e os asilados são questões concretas no nosso país. O nosso goleiro Urs, 40 anos, somente agora conseguiu um teto", diz para a swissinfo Lavinia Birt.

Histórias de vida

Nos campos de futebol, ninguém se preocupa com a folha penal ou com o passado difícil dos jogadores. Dentro das quatro linhas todos são iguais, mas trazem, sob as camisas, as marcas de uma trajetória de vida complicada e recuperada através do esporte. Dois anos e meio atrás, Kiflom chegou à Suíça depois de ter desembarcado como clandestino na ilha de Lampedusa, no canal de Sicília. A fuga da guerra civil, a travessia pelo deserto e pelo mar, da Eritréia ate a Suíça não tiraram deste ex-menino-soldado, a vontade de dar a volta por cima.

A espera do documento de asilado político, com a paixão pelo futebol e DJ como profissão, ele não deixa a bola cair: "é bom estar aqui, participar deste desafio com amizade. Estou estudando alemão, para aprender a falar e a escrever. Acho que o futebol é como música, uma língua universal, ele pode promover a paz, a união", diz Kiflom, 26 anos, cabelos rastafári, sorridente, mesmo sem ter ganho ainda uma partida, das cinco disputadas. A chance de recomeçar ele agarra com as mãos, sempre.

"Esta é uma oportunidade nova para a vida desses rapazes. Aprendem a serem mais sociais, a pertencerem a um grupo, tentam integrar-se mais, é como uma educação" diz Lavinia Biert. Uma ótima oportunidade para Santiago, 20 anos, colombiano de origem, adotado por suíços, mas com seis anos de vida pelas ruas das cidades do país natal. Ou para Urs, 40 anos, com um passado superado de drogas e em busca de um trabalho.

Tem o Hayelom, 23, amigo de aventura e desventura de Kiflom, que se mostrou um grande corredor dos 200 metros rasos, ganhando uma aposta de um sorvete com um competidor argentino. E Julien, com dificuldades no relacionamento familiar...as histórias são infinitas, mas todas, graças ao futebol e a força de vontade de cada um, conseguiram, de uma maneira ou de outra, reencontrar o caminho do gol.

O jogo

A modalidade lembra aquela do futebol de salão. Mas o jogo mesmo é aquele velho conhecido de rua: um no golzinho e três jogadores na linha. Dois campos pequenos foram montados na Arena Cívica de Milão, dentro do Parque Sempione. "Mas era melhor que fosse do lado de fora, no meio das árvores, teria muito mais público" disse para a swissinfo Lavinia Biert, integrante da comissão técnica do time diante de uma arquibancada cheia de jogadores, mas com poucos torcedores.

Duas arquibancadas cercam cada um dos campos. As proteções laterais e traseiras deles podem ser usadas pelo jogador que quiser "tabelar" com o muro. A bola sai apenas se for pelo alto. Então, se bate lateral ou escanteio.

Na pelada também não tem tempo para comemorar o gol e correr para o abraço. O goleiro que frangou já coloca a bola em campo. As partidas duram 14 minutos, divididos em dois tempos. Tudo é muito rápido e exige dos jogadores habilidade e reflexos.

Os times podem ainda ser mistos. Dos 500 participantes, 20 atletas são mulheres. E elas chegam dos mais variados países, da Argentina à Índia. Elas ainda são minoria, mas para o próximo campeonato, previsto para setembro do ano que vem no Rio de Janeiro, a idéia dos organizadores é incluir o futebol feminino, como ocorreu na edição de 2008, na Austrália. Enquanto isto, a argentina Laura, de 17 anos, vai jogando na rua na esperança de conseguir uma vaga na seleção oficial.

Futebol social

Quase todos os jogadores da Copa dos Sem Teto foram inscritos através das Organizações Não Governamentais que operam em áreas carentes nos grandes centros urbanos. O time do Brasil, favorito, é composto por atletas dos 16 aos 19 acompanhados de perto por operadores sociais em favelas de Sao Paulo e Sao Vicente.

A escolha dos jogadores foi através de uma seleção na liga de dezesseis times que disputam anualmente um torneio na Suíça, o da Strassensport Magazine. O time vencedor e mais quatro atletas que se destacaram no campeonato foram chamados para representar o país. "Através do futebol tentamos dar a eles uma força nova para renovar a própria vida. Descobrem que vitorias e derrotas são normais na vida, tem que continuar em frente, esperar o próximo desafio como uma nova chance" diz para a swissinfo, Olivier Jolia, técnico da seleção helvética.

Guilherme Aquino, swissinfo.ch

Dados

O campeonato acontece em Milão entre os dias 6 e 13 de setembro de 2009

Segundo a organização do evento, existem no mundo cerca de um bilhão de pessoas sem teto. Na Itália este numero é de 50.000

Mais de 70% dos participantes de copas passadas conseguiram melhorar a qualidade da própria vida, encontrando casa, trabalho, voltando a estudar, retomando relações pessoais.

Desde 2003, cerca de cem mil jogadores participaram da Homeless World Cup e deram vida a programas sociais esportivos em mais de 70 nações.

O time da Suíça participa da liga Strassensport Magazine. O blog da equipe é: blog.strassensport.ch

Os jogadores estão alojados em quartéis e algumas instituições civis, como a Cruz Vermelha.

Os times visitam o estádio de San Siro e participam de atividades culturais como um laboratório de musica.

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