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Europa tenta se livrar da vacina contra gripe A

Europeus não sabem o que fazer com o excedente de vacina contra a influenza A(H1N1). Keystone

Vários países europeus, entre eles a Suíça, tentam se livrar do excesso de vacinas contra a gripe A(H1N1), a chamada gripe suína, que não foi tão forte quanto previsto.

Este conteúdo foi publicado em 10. janeiro 2010 minutos

Berna comprou 13 milhões de doses. Agora uma parte deverá ser doada ou vendida ao exterior, a outra será mantida em estoque para uma eventual próxima pandemia.

Em meio a uma polêmica sobre sua cara campanha de vacinação contra a gripe suína, a França anunciou na última segunda-feira que cancelaria a compra de 50 milhões das 94 milhões de doses que havia encomendado.

Inicialmente, o país tinha previsto gastar 869 milhões de euros com 94 milhões de doses da vacina, estimando que cada cidadão receberia duas doses. Mas apenas 5 milhões dos 65 milhões de franceses se vacinaram, e as autoridades europeias de saúde disseram que uma dose é suficiente.

Paris seguiu decisões semelhantes tomadas no mês passado pela Suíça, Espanha, Alemanha e Holanda de reavaliar as encomendas de vacinas que haviam feito no início da pandemia.

A Suíça, que tem uma população de 7,7 milhões de habitantes, encomendou 13 milhões de doses de vacina da britânica GlaxoSmithKline (GSK) e da empresa nacional Novartis, no valor de 84 milhões de francos, sem contar os custos de estocagem.

Apenas 3 milhões de doses foram enviadas aos estados. A Secretaria Federal de Saúde (SFS) ainda não sabe quantas foram usadas. Algumas autoridades estaduais falam de índices de vacinação entre 15 e 30% da população (no cantão de Berna, por exemplo, 13 a 15%).

Em dezembro, o governo disse que planejava doar à Organização Mundial da Saúde (OMS) ou vender a outros países cerca de 4,5 milhões de doses excedentes da vacina contra a gripe suína, devido à pouca procura pela população.

"Estão em curso negociações com vistas à venda ou doação de nossos estoques", disse o porta-voz da SFS, Jean-Louis Zurcher, à swissinfo.ch.

Zurcher não revelou quais países estariam interessados e não confirmou se a Suíça, como a França e a Alemanha, negocia com empresas farmacêuticas o cancelamento de pedidos ou a devolução das vacinas excedentes.

"Muito dinheiro foi investido nas vacinas, mas a situação de pandemia poderia ter sido muito pior", acrescentou.

Cancelamentos

A Alemanha também está tentando se livrar dos excedentes e renegociar as encomendas feitas durante a fase inicial da onda de gripe A(H1N1). Na quinta-feira (7/1), Berlim começou a negociar com a GSK um corte de metade das 50 milhões de doses da vacina Pandemrix encomendadas.

A Holanda anunciou em novembro de 2009 que iria vender 19 milhões das 34 milhões de doses encomendadas.

A Espanha tenta devolver vacinas não utilizadas, argumentando que seus contratos com a Novartis (22 milhões de doses), a GSK (14,7 milhões) e a Sanofi-Aventis (400 mil) incluem cláusulas que permitem a devolução de excedentes.

Um porta-voz do Ministério da Saúde britânico disse à agência France Presse, no domingo, que seu país também considera a possibilidade de vender vacina não utilizada.

Mina de ouro

Diante disso, os analistas estão cada vez mais pessimistas quanto à receita dos fabricantes de vacinas e as perspectivas de lucros com a pandemia da gripe A(H1N1), que já era considerada uma mina de ouro do setor.

Analistas do Morgan Stanley disseram que os últimos cortes franceses sublinham a diminuição da demanda por vacinas contra o vírus A(H1N1) e representam um "modesto risco de curto prazo para os resultados" da GSK, Novartis e Sanofi.

"A longo prazo, o excesso de capacidade evidente da produção da vacina conta o H1N1 deve limitar o aumento da receita associada à gripe pandêmica", acrescentaram.

As vendas de vacinas contra o vírus H1N1 tem sido uma bênção para as empresas farmacêuticas. A GSK poderá ser a maior beneficiária, com vendas previstas no valor 3,7 bilhões de francos até o final do primeiro trimestre de 2010, segundo analistas. A Sanofi e a Novartis previram lucros estimados em 1,1 bilhão e 628 milhões de francos, respectivamente.

Os últimos cancelamentos de pedidos na Europa podem reduzir esses números. Mas um porta-voz da Sanofi disse que sua empresa deverá compensar a queda de vendas na França com encomendas de outras partes do mundo.

A Glaxo recusou-se a comentar o eventual impacto comercial das últimas decisões, mas um porta-voz disse que o grupo britânico estava discutindo as encomendas com os governos.

"A Novartis irá avaliar caso a caso os pedidos do governo, no âmbito dos acordos contratuais que consideramos vinculativos", disse Eric Althoff, diretor de relações com a mídia da gigante farmacêutica suíça.

"Fiasco extravagante"

A decisão do governo francês veio depois de fortes críticas de políticos e cientistas. O Partido Socialista, de oposição, descreveu a campanha nacional francesa como um fiasco "extravagante" e exigiu uma investigação parlamentar.

Países-membros do Conselho da Europa avaliam a possibilidade de criar uma comissão de inquérito para analisar a influência das empresas farmacêuticas sobre a campanha global da gripe suína.

A campanha da " falsa pandemia" da gripe, encenada pela Organização Mundial da Saúde e outros institutos em benefício da indústria farmacêutica, foi "um dos maiores escândalos da medicina no século", disse o médico alemão Wolfgang Wodarg, presidente da Comissão de Saúde Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, que apresentou a proposta a ser debatida em 25 de janeiro.

Simon Bradley, swissinfo.ch e agências
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

Últimos números

Segundo o diretor de prevenção a pandemias da Secretaria Federal de Saúde, Patrick Mathys, no início do verão do ano passado, a autoridade previa 400 mil consultas médicas na Suíça por causa do vírus H1N1. Até hoje foram feitas 260 mil.

Além disso, a SFS esperava mil hospitalizações – até agora, 480 pessoas foram internadas por causa da gripe suína. Previa-se que 100 a 150 dessas 1000 pessoas iriam para a UTI – até hoje foram 87.

“A doença, na maioria dos casos, por sorte foi leve ou até muito leve. Apesar disso, presumimos que houve entre 1 e 1,5 milhão de atingidos. Havíamos previsto de 1 a 2 milhões de infectados. Com 260 mil consultas médicas na Suíça chega-se a mais de 1 milhão de infectados”, disse Mathys ao portal bazonline.ch, de Basielia.

Segundo o último boletim da SFS, até 3 de janeiro de 2010 foram confirmados 13.126 casos de gripe A(H1N1) na Suíça – 15 pessoas morreram em consequência da doença.

Segundo um comunicado de 31 de dezembro de 2009 da Organização Mundial da Saúde, a maioria dos países europeus já superou o auge da gripe suína.

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