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Suíça tornou-se alvo fácil e vulnerável

A economia suíça tem demonstrado uma resiliência notável à desindustrialização das últimas décadas. Mas o anúncio da demissão de massa da Alstom na Suíça reaviva os temores da produção nacional.

Este conteúdo foi publicado em 21. janeiro 2016
swissinfo.ch
Em Birr, no cantão da Argócia, Alstom produz turbinas hidráulicas. 1300 funcionários devem perder o emprego após a retomada das atividades energéticas do grupo francês pela General Electric. Keystone

Uma verdadeira bomba foi lançada na quarta-feira, 13 de janeiro, contra os funcionários suíços da General Electric (GE), os políticos, mas também todos os atores da indústria suíça. Dois meses depois de assumir a divisão de energia do grupo francês Alstom, o conglomerado americano anunciou planos de cortar até 1300 dos 5500 postos de trabalho no país.

Além dos cortes de empregos, todo o tecido econômico do cantão da Argóvia (centro) teme o pior, já que a Alstom emprega cerca de 5500 fornecedores na região.

Especialista em competitividade das nações no instituto IMD, em Lausanne, Stéphane Garelli não esconde sua preocupação.

swissinfo.ch: Como é que a Suíça foi afetada pela aquisição das atividades da Alstom na Europa pela General Electric?

Stéphane Garelli: Na França, a General Electric tinha assinado um acordo com o governo no momento da aquisição da Alstom para preservar os locais de produção e os empregos. O grupo foi forçado a analisar as possibilidades de reorganização no resto da Europa. E temos de admitir, infelizmente a Suíça se tornou um alvo fácil e vulnerável.

O problema são os custos de produção tradicionalmente elevados, que pioraram depois da decisão do banco central de remover a taxa mínima do euro, o que levou a uma forte valorização do franco no ano passado. Para um grupo internacional, como a General Electric, o que faz suas contas em dólares, manter as atividades de produção na Suíça, neste contexto, é muito difícil de justificar.

Conteúdo externo

swissinfo.ch: O fantasma da desindustrialização, brandido por sindicatos e federações da indústria, também deixa o senhor preocupado?

S.G.: A Suíça é um dos poucos países ocidentais que conseguiu manter uma forte base industrial. A contribuição da indústria para o produto interno bruto (PIB) manteve-se em torno de 20%, graças principalmente à indústria de relógios, que tem tido um enorme sucesso nos últimos anos. Em comparação, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Japão perderam nas duas últimas décadas quase 20% de suas indústrias e setores inteiros de atividades produtivas.

Nem por isso, atualmente o futuro da indústria suíça levanta sérias preocupações. Os impactos já são conhecidos: há, por um lado, as empresas que deixam nosso país, como a General Electric, mas também as que não vêm mais se instalar nele. Trabalhar para um instituto de promoção econômica é certamente a profissão mais difícil de praticar hoje na Suíça.

Outro impacto que é menos visível, mas mais pernicioso: muitas empresas suíças estão trocando seus fornecedores locais por outros no exterior. Isto tem um impacto real sobre o tecido industrial do nosso país.


swissinfo.ch: As estatísticas oficiais mostram que 31360 empregos foram perdidos na indústria entre 2008 e 2015, mas, ao mesmo tempo, 261700 vagas foram criadas no setor de serviços (saúde, social, educação e formação). Isso não é um fenômeno muito normal e desejável para os países industrializados altamente desenvolvidos como a Suíça?

S.G.: Este desenvolvimento, na verdade, diz respeito a todos os países ocidentais. No entanto, é lamentável que os empregos sejam perdidos na indústria em favor de vagas criadas principalmente nas administrações. Sem a indústria, os serviços se tornam muito vulneráveis. Grande parte das patentes estão relacionadas com a indústria, a única que tem a capacidade de levar ao mercado novos produtos. Além disso, a nível individual, um funcionário da indústria não pode ser convertido rapidamente em funcionário de banco ou de seguradora, por exemplo.

swissinfo.ch: Para o senhor, não é possível ficar sem indústria...

S.G.: A indústria é, não só um grande fator para a criação de riqueza, mas também inovações, avanços científicos e tecnológicos. Todos nossos estudos mostram que a indústria é fundamental para a prosperidade de um país. Este é um dos elementos-chave da competitividade da Suíça. Para continuar a inovar e criar valor agregado, é essencial manter uma relação estreita com a indústria. Mesmo as atividades de baixo ou médio valor agregado, se elas estiverem perto do consumidor final, elas têm um futuro na Suíça. 

swissinfo.ch: Os sindicatos condenam a falta de estratégia industrial do governo, principalmente a passividade do ministro da Economia, Johann Schneider-Ammann. O que o senhor acha disso?

S.G.: A Suíça é de certa forma uma vítima de seu sucesso. Com a Alemanha, é um dos países que melhor resistiram à desindustrialização na Europa. As autoridades, portanto, não acharam que era necessário ter uma política ativa nesta área. Mas desde o ano passado, houve uma aceleração da deterioração das condições de enquadramento. Temos que fazer a pergunta sem tabu: será que oferecemos um ambiente que permite que a indústria produza na Suíça? Alguns políticos continuam argumentando que empresas suíças são muito resistentes e conseguem se adaptar. Vemos hoje que o limite foi atingido.

swissinfo.ch: O que fazer? Reintroduzir uma taxa mínima com o euro?

S.G.: Isso seria, obviamente, um sopro de ar fresco bem-vindo para as empresas de exportação, mas o banco central suíço já não tem credibilidade suficiente para repetir a operação. Ninguém iria levá-lo a sério. A política de câmbio disfarçado que estabiliza o euro em cerca de 1,10 CHF é provavelmente a melhor solução. Sem dizê-lo oficialmente, o banco central também está tentando estabilizar o franco suíço frente a outras moedas, particularmente em relação ao dólar. É uma política inteligente que evita choques importantes para a indústria. Além disso, seria sensato rever a política de atração de empresas estrangeiras à Suíça, estando bem ciente de que será cada vez mais difícil trazer novas empresas.

A Indústria Suíça

De 1960 até o presente, a contribuição do setor secundário no PIB caiu pela metade na Suíça, passando de 40% a 20%. A porcentagem de emprego industrial, entretanto, caiu de 50% para 22%. Em comparação com outras economias avançadas, no entanto, a Suíça conseguiu preservar sua base industrial se voltando para produtos de nicho e de alta qualidade. Setores de engenharia de precisão, relógios, artigos de luxo e produtos farmacêuticos têm tido uma evolução particularmente positiva. 

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