Navigation

'Neutralidade engajada' guia patrocínio das artes no exterior

A Swiss House, localizada na zona de mineração de Johanesburgo. Construída em 1968, ela abrigava o Swiss Council, o banco UBS e a companhia aérea Swissair. O prédio faz parte da pesquisa da artista suíça Denise Bertschi na residência da Pro Helvetia na África do Sul (2017), estudando a relação entre empresas suíças e a mineração de ouro na região. Denise Bertschi

Os "tentáculos" culturais da Suíça se espalham por praticamente todos os cantos do planeta, e em praticamente todos os projetos culturais em que o país está representado, um logotipo discreto está sempre visível nos créditos: Pro Helvetia, a Fundação Suíça para a Cultura. Seu sucesso em todo o mundo é em parte resultado de uma estratégia muito particular de intercâmbio cultural, na qual todos os seus escritórios estrangeiros são administrados por profissionais locais.

Este conteúdo foi publicado em 16. março 2018

No ano que vem, a Pro Helvetia completa 80 anos desde a sua fundação em 1939 - criada como um grupo de trabalho para cuidar da "defesa espiritual" do país contra a Alemanha nazista e a Itália fascista. Seu mandato oficial, ancorado na lei federal, completa agora 53 anos - o que certamente não é um número redondo para um jubileu, mas a Pro Helvetia iniciou 2018 com alguns bons motivos para comemorar.

Desde novembro passado, a fundação tem um novo diretor - o dramaturgo e ex-chefe de assuntos culturais do cantão da cidade de Basileia, Philippe Bischof - e três dos escritórios estrangeiros da Fundação celebram seus aniversários este ano: o escritório do Cairo (Egito) faz 30 anos, o escritório de Joanesburgo (África do Sul) faz 20, e o de Nova Deli (Índia), 10.

Existem também mais dois escritórios permanentes, em Xangai, China (inaugurado em 2010), e em Moscou, na Rússia (inaugurado em 2017). Há ainda uma nova filial provisória em São Paulo, cobrindo a América Latina em caráter experimental desde outubro de 2017.

Nas muitas entrevistas realizadas por Bischof desde que assumiu o novo cargo, inclusive para swissinfo.ch, ele diz que as mudanças que pretende implementar são mais táticas do que estratégicas.

Ele menciona a necessidade de "ter mais foco", bem como "projetos sustentáveis". Bischof tampouco tem medo de trabalhar mais perto do mercado da arte, desde que não afete a independência da Pro Helvetia.

No mundo cultural, esses gestos efetivamente garantem uma certa estabilidade dentro de uma estratégia que tem sido continuamente desenvolvida desde o estabelecimento do primeiro escritório estrangeiro em 1988.

Philippe Bischof não acredita em fronteiras nacionais quando se trata de arte e cultura. Keystone


Colaboradores locais

Grande parte dos apoios da Pro Helvetia é fornecida no exterior, e Philippe Bischof cumpre o perfil necessário para comandar a fundação. Cosmopolita assumido, Bischof não acredita em fronteiras nacionais quando se trata de cultura.

"Para mim, a arte sempre foi uma linguagem global", disse ele à swissinfo.ch. "O que fazemos na Pro Helvetia não é sobre a arte suíça, mas arte feita por suíços, é isso que financiamos aqui - e essa é uma grande diferença".

Pode-se mencionar outras grandes diferenças na forma como a Pro Helvetia opera no estrangeiro em comparação com instituições similares, como o British Council (Reino Unido), a Alliance Française (França) ou o Instituto Goethe (Alemanha). A Pro Helvetia é uma instituição autônoma e não vinculada a qualquer tipo de política governamental.

Os escritórios estrangeiros são bem frugais - apenas cinco ou seis funcionários em cada um - e administrados por cidadãos locais: não há um único funcionário suíço trabalhando em nenhum deles, em grande contraste com seus homólogos britânicos, alemães ou franceses.

"Essa é uma das nossas coisas positivas, trabalhar com colaboradores locais, pois eles conhecem as situações, eles conhecem os limites", diz Bischof. Perguntado sobre como é trabalhar em países com controles governamentais muito rígidos, como a Rússia ou a China, Bischof simplesmente diz que "Eles sabem o que é possível e o que não é". Ele nega que esta seja uma forma de autocensura. "Nós fazemos o que acreditamos dentro de certos limites", diz ele.

‘Neutralidade engajada’

O estabelecimento de escritórios estrangeiros fora das principais capitais culturais ocidentais (apesar de sua presença em Paris, Roma e Nova York) precederam o 'hype' dos chamados países BRICS emergentes - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Quando o primeiro escritório foi aberto no Cairo em 1988, as regiões fora das áreas de influência norte-americana ou soviética eram simplesmente designadas como pertencentes ao "Terceiro Mundo". E, embora a Pro Helvetia se orgulhe de ser autônoma em relação a qualquer tipo de agenda política oficial, sua estratégia mundial seguiu os esforços diplomáticos suíços para se envolver mais profundamente com culturas mais diversas e longínquas.

É certamente um trabalho constante de tradução - outro termo favorito usado por Bischof. Não apenas linguística, mas também entre diferentes contextos e situações individuais: uma espécie de "neutralidade engajada".

Em "Crossroads", uma conferência recente na Universidade de Basileia organizada pela Pro Helvetia e pela Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação, muitos dos artistas e agentes estrangeiros de cultura louvaram a liberdade de que a Pro Helvetia goza e estende aos seus parceiros.

Os participantes da conferência disseram que, apesar de alguns contratempos, iniciativas fracassadas e falhas de entendimento mútuo, a Pro Helvetia é considerada em melhor posição para trabalhar para além das questões e conflitos gerados pelas práticas pós-coloniais de seus pares em outras países ocidentais.


Pro Helvetia em fatos e números

- 87,6% do orçamento da Pro Helvetia em 2016 de CHF 36,6 milhões (US$ 39 milhões) foram utilizados em projetos culturais. A parcela dos custos administrativos, de 12,4%, está significativamente abaixo do limite imposto pelo governo, de 15%.

- Em 2016, a Pro Helvetia aprovou 52% das 4.600 propostas recebidas, principalmente nos campos de artes visuais, literatura, teatro, dança, música e projetos interdisciplinares envolvendo novos meios de comunicação e tecnologia.

- Em 2016, a Pro Helvetia apoiou 1.450 projetos culturais na Suíça, espalhados por mais de 200 municípios nas quatro regiões linguísticas.

- Em 2016, a Pro Helvetia apoiou 3.900 projetos no exterior.

- Para 2018, a Pro Helvetia conta com um orçamento de CHF 40,3 milhões.

- A fundação emprega 94 profissionais, na Suíça e no exterior.

- Além dos escritórios estrangeiros, a Pro Helvetia também dirige o Centre Culturel Suisse em Paris e financia os programas culturais do Instituto Suíço em Roma e em Nova York. A Pro Helvetia também atua no escritório da swissnexLink externo em San Francisco.

End of insertion
Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Os comentários do artigo foram desativados. Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch

Ordenar por

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?

Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco

Os artigos mais importantes da semana

Mantenha-se atualizado com as melhores artigos da swissinfo.ch sobre uma variedade de temas, recebendo o boletim diretamente na sua caixa postal.

Semanalmente

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados.