Navigation

Psicóloga suíça quer quebrar o tabu do orgasmo

Andrea Burri vive e trabalha atualmente em Londres RDB/SI/Marcel Nöcker

A psicóloga suíça Andrea Burri é conhecida há dois anos. Suas pesquisas sobre o comportamento sexual, especialmente o orgasmo feminino, foram amplamente divulgadas pela mídia.

Este conteúdo foi publicado em 12. agosto 2011 minutos
Andrew Littlejohn, swissinfo.ch, Londres

Ela afirma que as mulheres que têm uma inteligência emocional tem uma vida mais prazerosa. O ponto G? Uma quimera.

A pesquisadora de 31 anos vive atualmente em Londres, onde continua suas pesquisas. Seus trabalhos sobre a sexualidade feminina tornaram-se conhecidos em 2009, quando começou a falar abertamente do orgasmo feminino.

 Andrea Burri, nasceu em Berna, capital suíça, e estudou em Zurique. Ela já é considerada uma especialista de comportamento e disfunções sexuais. Recentemente ela declarou que a orientação sexual das mulheres depende de uma combinação genética, hormonal e da educação.

Uma fascinação

Seus estudos sobre o orgasmo suscitaram controvérsia, especialmente quando afirma que o misterioso ponto G reivindicado por algumas mulheres só existe na imaginação delas.

Durante suas pesquisas em psicologia clínica na Universidade de Zurique, ela rapidamente dedicou-se a estudar os comportamentos sexuais. “A depressão, como a anorexia, me interessavam, mais o sexo ainda mais”, explica.

Sua fascinação provém da discrepância entre a atitude da sociedade em relação ao sexo e os complexos das pessoas comuns.

“Todo mundo fala de sexo, o sexo está por todo lado, nas revistas e na televisão, mas para muita gente continua a ser um assunto proibido. Os não especialistas que devem falar dos meus estudos, às vezes ficam muito incomodados. Como é possível falar tanto de um assunto que continua sendo um tabu?”

Estigma

Andrea Burri fez mestrado na Alemanha, porque na Suíça não havia o ramo das ciências sexuais. Aliás, alguns de seus professores suíços tentaram dissuadi-la de prosseguir seus estudos dos comportamentos sexuais. “Eles receavam que eu fosse estigmatizada pelo meu trabalho. Mas eu era meio rebelde naquela época e então fui para Hamburgo.”

E então a psicóloga foi mesmo estigmatizada? “Era antes chato porque, frequentemente, não te levam a sério nessa área. Eu utilizo a mesma metodologia aplicada nas pesquisas sobre o câncer, mas minha área não é considerada como apropriada ou, de certa maneira, séria.”

Concretamente, o que ocorre é uma dificuldade constante de encontrar recursos para financiar as pesquisas sobre a sexualidade. “De um lado, é fácil fazer carreira porque não somos muito numerosos. De outro, nem sempre consigo financiamento e é uma luta permanente.”

Pesquisa com 3000 mulheres

Andrea Burri trabalha há quatro anos em Londres, dividindo seu tempo entre a Queen Mary University e o King’s College.

Seus principais centros de interesse são a genética da orientação sexual e os distúrbios sexuais femininos. Ela conta que são áreas quase inexploradas na população feminina e que os estudos existentes são de má qualidade e pouco amplos.

“Em minhas pesquisas acerca das disfunções do orgasmo, encontrei estudos sobre o famoso ponto G, mas me dei conta que havia pouquíssimos estudos e com amostras muito pequenas de população. Achava irresponsável clamar a existência de uma entidade que jamais foi provada e, em certos casos, era baseada em apenas 30 mulheres no mundo.”

A psicóloga acrescenta que a maioria dos estudos tentaram localizar o ponto G utilizando ecografias. Ela criou sua própria equipe de pesquisa no King’s College de Londres para determinar a existência dessa zona erógena. Não houve exame físico. Mais de 3000 mulheres, todas verdadeiras ou falsas gêmeas, responderam a um questionário, e especialmente se elas pensavam que a vagina continha essa pequena zona sensível.

Conclusão : o ponto G não existe como zona anatômica localizada. Esse é o mais importante feito até agora e foi publicado pelo Journal of Sexual Medicine em 2010 e teve repercussão na mídia internacional.

Pressão da sociedade

Mesmo que a educação psicossexual não seja desenvolvida atualmente, Andrea Burri continua preocupada pela pressão exercida sobre os homens e as mulheres pela maneira como a sociedade considera o sexo.

“A maneira como o sexo é apresentado na mídia e nos filmes cria frequentemente uma base de comparação que nem sempre é realista para o indivíduo. Há variações naturais e certas mulheres terão um apetite sexual mais desenvolvido que outras. Mesmo se os adultos parecem mais conscientes de sua sexualidade, isso pode ser contraproducente.”

Nos últimos anos, a psicóloga observou um aumento da taxa de disfunção sexual feminina. “Um dos fatores do diagnóstico é um sentimento de abandono. Mas qual é causa desse sentimento? É a condição real ou o que você pensa que é o que esperam de você e que você começa, então, a esperar de você mesmo?”, questiona a psicóloga suíça.

Andrea Burri

Psicologia. Nascida em 1980, em Berna, capital suíça, estudou psicologia na Universidade de Zurique e especializou-se em genética da sexualidade humana.

Genética. Concentra-se na base genética da orientação sexual das mulheres, estudando gêmea. Trabalha também em genética molecular.

Abandono. Ela também estudou as disfunções sexuais femininas, notadamente para melhorar o sistema de classificação, explorando a validade do sentimento de abandono como critério de diagnóstico e o papel de variáveis como a ansiedade e a depressão no desenvolvimento e permanência dessas disfunções.

End of insertion

Point G

1982. O ponto (ou zona) de Gräfenberg ou unidade do complexo clitoro-uretro-vaginal é uma hipótese apresentada por Patrick Dao, Alice Ladas e Beverly Whipple em O Ponto G, publicado em 1982.

Hipótese. Essa hipótese enuncia que haveria uma zona na vagina que responderia à estimulação e que certas mulheres seriam capazes de ter um orgasmo somente com essa estimulação.

Gräfenberg. O nome “point G” refere-se ao nome do sexólogo Ernest Gräfenberg que falou da sensibilidade erótica dessa zona em 1950.

Não há prova. Depois ter questionado 3000 mulheres, a psicóloga suíça Andrea Burri afirma que não existe prova científica da existência do ponto G.

End of insertion
Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Os comentários do artigo foram desativados. Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch

Partilhar este artigo

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?