Psicóloga suíça quer quebrar o tabu do orgasmo
A psicóloga suíça Andrea Burri é conhecida há dois anos. Suas pesquisas sobre o comportamento sexual, especialmente o orgasmo feminino, foram amplamente divulgadas pela mídia.
Ela afirma que as mulheres que têm uma inteligência emocional tem uma vida mais prazerosa. O ponto G? Uma quimera.
A pesquisadora de 31 anos vive atualmente em Londres, onde continua suas pesquisas. Seus trabalhos sobre a sexualidade feminina tornaram-se conhecidos em 2009, quando começou a falar abertamente do orgasmo feminino.
Andrea Burri, nasceu em Berna, capital suíça, e estudou em Zurique. Ela já é considerada uma especialista de comportamento e disfunções sexuais. Recentemente ela declarou que a orientação sexual das mulheres depende de uma combinação genética, hormonal e da educação.
Uma fascinação
Seus estudos sobre o orgasmo suscitaram controvérsia, especialmente quando afirma que o misterioso ponto G reivindicado por algumas mulheres só existe na imaginação delas.
Durante suas pesquisas em psicologia clínica na Universidade de Zurique, ela rapidamente dedicou-se a estudar os comportamentos sexuais. “A depressão, como a anorexia, me interessavam, mais o sexo ainda mais”, explica.
Sua fascinação provém da discrepância entre a atitude da sociedade em relação ao sexo e os complexos das pessoas comuns.
“Todo mundo fala de sexo, o sexo está por todo lado, nas revistas e na televisão, mas para muita gente continua a ser um assunto proibido. Os não especialistas que devem falar dos meus estudos, às vezes ficam muito incomodados. Como é possível falar tanto de um assunto que continua sendo um tabu?”
Estigma
Andrea Burri fez mestrado na Alemanha, porque na Suíça não havia o ramo das ciências sexuais. Aliás, alguns de seus professores suíços tentaram dissuadi-la de prosseguir seus estudos dos comportamentos sexuais. “Eles receavam que eu fosse estigmatizada pelo meu trabalho. Mas eu era meio rebelde naquela época e então fui para Hamburgo.”
E então a psicóloga foi mesmo estigmatizada? “Era antes chato porque, frequentemente, não te levam a sério nessa área. Eu utilizo a mesma metodologia aplicada nas pesquisas sobre o câncer, mas minha área não é considerada como apropriada ou, de certa maneira, séria.”
Concretamente, o que ocorre é uma dificuldade constante de encontrar recursos para financiar as pesquisas sobre a sexualidade. “De um lado, é fácil fazer carreira porque não somos muito numerosos. De outro, nem sempre consigo financiamento e é uma luta permanente.”
Pesquisa com 3000 mulheres
Andrea Burri trabalha há quatro anos em Londres, dividindo seu tempo entre a Queen Mary University e o King’s College.
Seus principais centros de interesse são a genética da orientação sexual e os distúrbios sexuais femininos. Ela conta que são áreas quase inexploradas na população feminina e que os estudos existentes são de má qualidade e pouco amplos.
“Em minhas pesquisas acerca das disfunções do orgasmo, encontrei estudos sobre o famoso ponto G, mas me dei conta que havia pouquíssimos estudos e com amostras muito pequenas de população. Achava irresponsável clamar a existência de uma entidade que jamais foi provada e, em certos casos, era baseada em apenas 30 mulheres no mundo.”
A psicóloga acrescenta que a maioria dos estudos tentaram localizar o ponto G utilizando ecografias. Ela criou sua própria equipe de pesquisa no King’s College de Londres para determinar a existência dessa zona erógena. Não houve exame físico. Mais de 3000 mulheres, todas verdadeiras ou falsas gêmeas, responderam a um questionário, e especialmente se elas pensavam que a vagina continha essa pequena zona sensível.
Conclusão : o ponto G não existe como zona anatômica localizada. Esse é o mais importante feito até agora e foi publicado pelo Journal of Sexual Medicine em 2010 e teve repercussão na mídia internacional.
Pressão da sociedade
Mesmo que a educação psicossexual não seja desenvolvida atualmente, Andrea Burri continua preocupada pela pressão exercida sobre os homens e as mulheres pela maneira como a sociedade considera o sexo.
“A maneira como o sexo é apresentado na mídia e nos filmes cria frequentemente uma base de comparação que nem sempre é realista para o indivíduo. Há variações naturais e certas mulheres terão um apetite sexual mais desenvolvido que outras. Mesmo se os adultos parecem mais conscientes de sua sexualidade, isso pode ser contraproducente.”
Nos últimos anos, a psicóloga observou um aumento da taxa de disfunção sexual feminina. “Um dos fatores do diagnóstico é um sentimento de abandono. Mas qual é causa desse sentimento? É a condição real ou o que você pensa que é o que esperam de você e que você começa, então, a esperar de você mesmo?”, questiona a psicóloga suíça.
Andrea Burri
Psicologia. Nascida em 1980, em Berna, capital suíça, estudou psicologia na Universidade de Zurique e especializou-se em genética da sexualidade humana.
Genética. Concentra-se na base genética da orientação sexual das mulheres, estudando gêmea. Trabalha também em genética molecular.
Abandono. Ela também estudou as disfunções sexuais femininas, notadamente para melhorar o sistema de classificação, explorando a validade do sentimento de abandono como critério de diagnóstico e o papel de variáveis como a ansiedade e a depressão no desenvolvimento e permanência dessas disfunções.
End of insertionPoint G
1982. O ponto (ou zona) de Gräfenberg ou unidade do complexo clitoro-uretro-vaginal é uma hipótese apresentada por Patrick Dao, Alice Ladas e Beverly Whipple em O Ponto G, publicado em 1982.
Hipótese. Essa hipótese enuncia que haveria uma zona na vagina que responderia à estimulação e que certas mulheres seriam capazes de ter um orgasmo somente com essa estimulação.
Gräfenberg. O nome “point G” refere-se ao nome do sexólogo Ernest Gräfenberg que falou da sensibilidade erótica dessa zona em 1950.
Não há prova. Depois ter questionado 3000 mulheres, a psicóloga suíça Andrea Burri afirma que não existe prova científica da existência do ponto G.
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