As cores dos olhos e da alma
Um dos elementos mais importantes na obra de Paul Klee é a cor. No início, ele lidava com as cores apenas sob uma perspectiva teórica. Mais tarde, porém, ele descobriu também a qualidade emocional das cores.
"A cor me possui [...] Eu e a cor somos um [...] Sou pintor", escreveu Klee em seu diário durante sua viagem à Tunísia. Essa viagem representou uma virada na sua obra.
"A cor me possui [...] Eu e a cor somos um [...] Sou pintor", escreveu Klee em seu diário durante sua viagem à Tunísia. Essa viagem representou uma virada na sua obra.
Paul Klee dizia, a respeito das cores, em suas aulas na escola de Bauhaus, entre 1921 e 1922: "A diferença entre um tom vermelho e uma cor que não contém nada de vermelho é imensa. Por isso, não me interessa o que o tom vermelho contém. A mim interessa muito mais o que o vermelho não contém."
Uma determinada cor, na opinião de Klee, não é comparável a uma voz, mas, sim, a uma espécie de acorde de três vozes. Os pais de Klee eram músicos, ele próprio era um excelente violinista e, como se não bastasse, ele era casado com uma pianista. Não é, portanto, de admirar, que em seus ensaios teóricos e nas suas aulas falasse em polifonia das cores, acordeão de cores e partitura de cores.
A descoberta da cor
Nas poucas telas que Klee pintou no início de sua carreira artística, ele usou as cores com moderação. Suas aquarelas mostram que o valor do matiz de um tom em uma escala de cores o interessava mais do que o seu efeito psicológico.
"No início, Paul Klee trabalhava principalmente com as diversos matizes, especialmente de tons avermelhados. Tons de marrom e verde eram mais difusos. Isso só mudou depois que ele próprio declarou ter descoberto as cores ", esclarece o historiador da arte Michael Baumgartner à swissinfo.
Entre 1913 e 1914, Klee utiliza pela primeira vez cores intensas. "As cores primárias vermelho, amarelo e azul ganham em importância, assim como as cores contrastivas complementares, e isso dentro de toda a escala de cores," declarou Klee. Ele via um novo mundo, como tons menos cinzentos.
A intensa luz do Sul
Neste aspecto, Klee foi fortemente influenciado por Robert Delaunay, cujo artigo "La Lumière" - A Luz - ele traduziu em 1913. Um ano mais tarde, Klee viaja para a Tunísia e lá, sob a intensa luz do sul, ele descobre a força emocional das cores. Esta experiência foi muito marcante para ele.
Até então, Klee tinha trabalhado sempre com desenhos e gravuras. Quando pintava, fazia aquarelas. Depois desta viagem, porém, Klee absorveu as idéias de Delaunay, ampliou-as e transformou-as na sua própria linguagem visual, com características muito específicas.
O arco-íris, a forma mais abstrata da natureza
Sob a influência de Delaunay, Klee teve a idéia de trabalhar diretamente com o espectro de cores. Segundo Klee, o arco-íris está acima de tudo o que tem cor. "O arco-íris é emprego, elaboração e combinação abstrata de cores."
Curiosamente, a nova relação de Klee com as cores fez com que ele desenvolvesse mais as suas técnicas de pintura a óleo. Suas composições tornam-se mais abstratas, as linhas, mais livres. Os títulos das telas passaram a refletir, muitas vezes, experiências e vivências pessoais.
Surgem na sua arte conceitos como dinâmica do movimento e relação entre a energia individual e a energia cósmica. Alguns anos mais tarde, Klee desenvolve, a partir dessa base, uma teoria de romantismo que, em vez de se orientar pelo classicismo, se orienta pela liberdade de expressão.
Artista e pesquisador
Com suas descobertas sobre as cores e seus efeitos, Paul Klee enriqueceu a arte moderna não apenas como pintor, mas também como teórico.
"Ele reinterpretou a teoria de luz e cores de Robert Delaunay, transformando-a em uma pintura poética própria. Paralelamente a isso, ele realizou experimentos com o objetivo de ampliar a escala de combinação de cores, por exemplo de cores complementares contrastivas e de cores quentes e frias", explica-nos Baumgartner.
No trato com as cores, o artista Klee deixava-se guiar pela intuição e pelos sentimentos. Por outro lado, estruturava o seu dia metodicamente, o que, ao mesmo tempo, favorecia os seus minuciosos estudos teóricos.
swissinfo, Raffaella Rossello
tradução de Fabiana Macchi
Breves
Entre 1911 e 1914, Paul Klee entra no cenário da arte européia.
Em 1911, trava conhecimento com o grupo "O Cavaleiro Azul".
Em 1912, conhece, em Paris, Robert Delaunay e sua pintura, baseada em estudos de cores.
Depois de ter estudado intensivamente o efeito psicológico das formas, Klee dedica-se ao estudo da luz e das cores.
Em 1914, viaja para a Tunísia juntamente com August Macke e Louis Moilliet. É o início da ruptura: Klee descobre a cor.0
A magia das cores da paisagem africana inspira-o em aquarelas cheias de luz. Suas formas geométricas ganham contornos definidos.

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