Navigation

“Não seria surpreendente que um um dia um trem chinês atravesse o Gotardo”

Cedo ou tarde, os trens chineses ocuparão um lugar preponderante no mercado europeu. É a convicção de Cui Jun, consultora e especialista em estradas de ferro, que mora na Suíça.

Este conteúdo foi publicado em 23. agosto 2017
Especialista em indústria ferroviária, Jun Cui trabalha também como mediadora cultural entre a Suíça e a China. DR


Consultora independente e especialista em trens, Cui Jun trabalha com pequenas e médias empresas. Seus serviços são a pesquisa de mercado em estradas de ferro, incluindo produtos, tecnologia, clientela potencial e a concorrência.

Durante a última década, Cui Jun trabalhou principalmente para empresas suíças como ABB, Ferrorivia Federal (CFF), Duagon, Ruf, Pkumettaz e Systraansis.

O trem suíço e o chinês

Situada no centro da Europa, região que tem uma longa história no desenvolvimento da ferrovia, a Suíça tem a malha ferroviária mais densa do mundo, de uma grande pontualidade. Além disso, ela é um dos países com taxa de utilização de trens mais elevada. A qulometragem anual por habitante é, em média, de 2.449 km.

A China tem a segunda maior rede ferroviária do mundo, depois dos Estados Unidos. A rede interna tem 140.000 km. A China construiu a rede de transporte a grande velocidade mais extensa do mundo, revolucionando a mobilidade dos chineses. A tecnologia mais recente no setor de trens de grande velocidade seguiu .

End of insertion

swissinfo.ch: Como consultora em ferrovias, que projetos a sra trabalhou na colaboração entre a Suíça e a China ?

Cui Jun: Com exceção da colaboração com a ABB, as colaborações de grande alcance no setor de ferrovias são atualmente pouco numerosas. Em 2012, foi mandadata por organizações oficiais suíças para dirigir a delegação da indústria suíça de ferrovias, composta de nove empresas. Pela primeira vez, visitamos formalmente a indústria ferroviária chinesa.

swissinfo.ch: Quais são os problemas de comunicação e as divergências que a sra encontrou ?

C.J.: A maior dificuldade das empresas suíças que querem fazer negócios com a China é o obstáculo da língua e a diferença de cultura. Sem intermediários, a colaboração e as trocas helvético-chinesas são quase impossíveis. As diferenças culturais e um conhecimento imperfeito do que se convém ou não fazer tem como consequência que, frequentemente, de um lado e de outro, não se sabe claramente quando se deve persistir ou ceder. Então é impossível evitar mal-entendidos e certos casos chegam mesmo ao fracasso na colaboração.

Quando, na comunicação, o lado sério e tenaz dos suíços cruzam a discreção dos chineses, as trocas chegam geralmente a um impasse. É por isso que dissipar os mal-entendidos e favorecer a compreensão mútua constitui uma parteimportante de meu trabalho.

swissinfo.ch: Os trens chineses têm pressa de entrar no mercado europeu. Eles já chegaram ao nivel dos fabricados na Europa e nos Estados Unidos ?

C.J.: Sim. Em matéria de cálculo de preços de custo e de métodos avançado de gestão a China tem um certo atraso em relação aos países desenvolvidos europeus. Mas do ponto de vista da tecnologia de fabricação e qualidade do produto, ela já chegou ao nível internacional.

Nas empresas de grande dimensão, a experiência ultrapassa a dos países europeus. No ano passado, o faturamento global da indústria ferroviária chinesa no mercado internacional foi de 90 bilhões de dólares. Vagãos de carga foram exportados para a França e Inglaterra e sucursais foram abertas na Áustria e na Inglaterra.

Mesmo se resta um longo caminho a percorrer, conquistar um lugar no mercado europeu é somente uma questão de tempo para a indústria ferroviária chinesa. Subestimar essa indústria chinesa seria falta de visão.

"Quando, na comunicação, o lado sério e tenaz dos suíços cruzam a discrição dos chineses, as trocas chegam geralmente a um impasse." 

End of insertion

swissinfo.ch: Quais são as consequências da diferença de regime político entre a Suíça e a China no tratamento e execução dos negócios?

C.J.: Na Suíça, o governo intervém pouco, porque o poder econômico está em grande parte no setor privado. A ferrovia federal suíça está mais voltada para as necessidades das pessoas; ele dá muita atenção à qualidade e à segurança. Aliás, com sua teconologia inovadora e seu ambiente liberal, a Suíça atrai talentos em tecnologia de ponta de todos os cantos do mundo.

Por sua vez, a China insiste na primazia do interesse coletivo em oposição ao interesse individual, e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), é o mais importante. O mercado ferroviário chinês ainda é em grande parte monopolizado por algumas empresas nacionais exercendo um poder gigantesco e sem concorrência.

As diferenças de regime político entre a Suíça e a China provocam grandes divergências. As empresas nacionais chinesas querem sobretudo colaborar com grandes empresas de reputação internacional, enquando as pequenas e médias emprsas privadas suíças penam a progredir no mercado chinês. Estabelecer contatos e colaborações no setor ferroviário enfrenta todas essas dificuldades.

swissinfo.ch: A China pretende que a pesquisa e exploração do trem a grande velocidade foi feita de maneira autônoma. Mas alguns afirmam que os chineses roubaram a tecnologia dos suíços. Qual é o seu ponto de vista?

C.J.: Não é roubo, no máximo uma troca de tecnologias. De fato, depois de sua reforma e sua abertura, a China adotou uma estratégia de troca de tecnologias através do mercado. Certos produtos da tecnologia suíça são exportados para a China por grandes grupos industriais (como Siemens, ABB, etc.).

Na economia globalizada, não convém, qualquer que seja o setor, de buscar a adotar inteiramente a tecnologia de um país de A a Z;assim, um carpinteiro não precisa aprender a plantar árvores. Então, uma vez que a tecnologia dos trens a grande velocidade introduzida, é crucial de poder assimilá-la.

A ferrovia chinesa, desse ponto de vista, é um sucesso. O pivô do desenvolvimento da ferrovia chinesa reside em uma renovação incessante da tecnologia, aumentando a a taxa de produção e mantendo a concorrência em termos de qualidade-preço a nível internacional.

swissinfo.ch: O trem a grande velocidade é frequentemente considerado como um meio de propaganda do governo chinês no estrangeiro. É a realidade?

"Essa maneira combativa de colocar à disposição recursos financeiros nacionais suscita a antipatia dos países ocidentais desenvolvidos."

End of insertion

C.J.: Duas empresas estatais chinesas estão entre os maiores fabricantes e distribuidores mundias de trens. O governo chinês dá a isso uma importância primordial a fim de estimular a exportação de trens a grande velocidade, com a intenção de ser um cartão de visita nacional. Essa maaneira combativa de colocar à disposição recursos financeiros nacionais suscita a antipatia dos países ocidentais desenvolvidos.

Resta que a ferrovia chinesa deve compreender claramente que se quer conquistar o mercado internacional, não basta se medir somente em tamanho, mas que é necessário observar as leis do mercado internacional e respeitar os regulamentos internacionais em vigor.

As empresas estatais chinesas precisam de uma reforma profunda ; do contrário, será muito difícil aumentar a eficiência e o nível de gestão e organização. O que posso confirmar é que a indústria chinesa não vai vender trens de grande velocidade a um país como a Suíça.

swissinfo.ch: Por que razão?

C.J.: A superfície da Suíça equivale somente a de uma província chinesa. A viagem de trem (a uma velocidade de 200 km/h) de Genebra a Zurique leva somente três horas. Então não é indispensável construir uma linha para uma uma velocidade ultrapassando 250 km/h.

swissinfo.ch: Como a sra. vê a colaboração bilateral  helvético-chinesa no futuro? Os trens fabricados na China um dia atravessarão o Gotardo?

C.J.: A ferrovia chinesa tem um papel importante no cenário internacional. Do ponto de vista técnico e qualitativo, não tem diferença do que se faz na Europa. Eu não ficaria surpresa que um dia os trens chineses atravessem o Gotardo. A indústria ferroviária suíça já é consciente que a China é um mercado que não pode ser negligenciado, ao mesmo tempo para a venda e a compra de material ferroviário. A probabilidade é muito grande que, no futuro, haja uma colaboração dos dois países no setor de locomotivas.


Em conformidade com os padrões da JTI

Em conformidade com os padrões da JTI

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Os comentários do artigo foram desativados. Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch

Ordenar por

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?

Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco

Os artigos mais importantes da semana

Mantenha-se atualizado com as melhores artigos da swissinfo.ch sobre uma variedade de temas, recebendo o boletim diretamente na sua caixa postal.

Semanalmente

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados.