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O diálogo como resposta à crise internacional 

No encontro anual da Associação dos Correspondentes Estrangeiros na Suíça, o presidente da Confederação Alain Berset expressou sua preocupação com a expansão do populismo pelo mundo, mas disse confiar na força da democracia suíça, cuja "monotonia" foi duramente conquistada. Jamil Chade

Contra a tensão, o diálogo. Contra a desconfiança internacional, a cooperação. E contra o populismo, a informação. São essas as receitas que apresenta o presidente da Confederação Helvética, Alain Berset, e sugere que cabe à diplomacia suíça o papel de facilitar essas respostas diante um cenário mundial marcado por um acirramento de posições. 

Este conteúdo foi publicado em 06. novembro 2018
Jamil Chade, em Berna

Em um encontro com cerca de 50 jornalistas estrangeiros nesta segunda-feira (5) em Berna, Berset apresentou a visão suíça do mundo e seus desafios. O homem que acumula em 2018 o cargo de presidente da Suíça e o Departamento de Interior não deixa dúvidas: o momento é de transformação. 

“Talvez estejamos assistindo a uma erosão, ainda que lenta, do sistema internacional fundada sobre o direito”, disse Berset, apontando que esse é um fenómeno que “preocupa” a Suíça. “Há uma crise do multilateralismo, com consequências de curto e longo prazo”, avaliou.

Em seu radar estão assuntos como a desigualdade, a propagação de extremismos, terrorismo, fluxo migratório e mudanças climáticas. “Diante desse cenário, o engajamento da Suíça se mostra essencial”, defendeu. Três assuntos marcam essa esforço de Berna: o trabalho pela paz, pela democracia e pelo meio ambiente.

Papel central de mediação

Para ele, governos precisam assumir responsabilidades, e lembra de como a Suíça continuará apostando em sua ação como intermediário entre os EUA e o Irã, entre os iranianos e sauditas e entre russos e o governo da Geórgia. “Vamos continuar a investir nisso”, prometeu.

“Com a crise do multilateralismo, nunca o diálogo foi tão importante como hoje. É a alternativa ao conflito”, defendeu.

Em sua avaliação, é “paradoxal” que diante de problemas com dimensões claramente internacionais, a reação de governos e países tem sido a de se fechar em si mesmos. “Existe uma tendência a procurar respostas domésticas, uma tendência à polarização e desconfiança em relação aos demais”, alertou. 

“Diante dessa realidade, a resposta precisa ser internacional. Não podemos lidar com o desafio ambiental sozinhos”, insistiu. 

Em defesa da monotonia

A estratégia suíça de buscar e oferecer o diálogo, porém, não é apenas uma política altruísta. “A estabilidade é fundamental para a Suíça”, lembrou seu presidente.  

Berset admite que nem mesmo a Suíça está isenta dessas tentações isolacionistas que afetam outros países. Como exemplo, ele cita a votação marcada para o dia 25 de novembro, sobre a iniciativa da Autodeterminação.

A iniciativa popular tentar modificar a forma pela qual a Suíça trata seus acordos internacionais, caso haja um conflito entre esses tratados e a lei doméstica. Para os proponentes da votação, a Constituição precisa sempre ser considerada como estando acima dos tratados internacionais. Em alguns casos, não se exclui nem mesmo a possibilidade de que certos acordos tenham de ser renegociados, enquanto em outros a Suíça simplesmente teria de abandona-los. 

“Essa é uma iniciativa que colocaria em questão os acordos internacionais. Colocaria incerteza em nossas relações”, alertou. “Para um país que exporta um terço de sua produção, a estabilidade é fundamental”, disse. “Se a Suíça vai bem economicamente e em termos sociais, é pelos tratados internacionais e o que a estabilidade criou”, apontou.  

Ironizando sua própria situação, Berset não desperdiçou a ocasião para fazer um elogio ao que muitos no exterior veem como um cenário político, social e econômico monótono na Suíça. “Somos monótonos. Mas isso é positivo e traz estabilidade. Lutamos muito por essa monotonia”, disse. 

Política e imprensa sob a mesma ameaça

Seu discurso ocorreu na ocasião dos 90 anos da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça. E, não por acaso, Berset deixou claro que as autoridades suíças reconhecem o desafio que a redes sociais e a Internet passaram a representar, alimentando movimentos populistas. “Políticos e a imprensa enfrentam os mesmos dilemas”, constatou. 

“O populismo sempre existiu. Mas com as redes sociais, as regras do jogo mudaram. Está cada vez mais difícil fazer a voz dos jornais serem ouvidas, mesmo tendo mais informações”, disse. Berset estima que uma das consequências dessas novas regras do jogo tem sido a fragmentação de debate e o aumento do populismo. 

“Nunca foi tão importante a sociedade ter um debate, e só a imprensa de qualidade tem essa capacidade”, defendeu. “Sempre haverá a necessidade por um jornalismo de alta qualidade”, insistiu. “Precisamos de diálogo e a imprensa facilitar esse diálogo, completou.  

Alain Berset mostrou-se diplomaticamente cauteloso sobre o resultado da eleição presidencial no Brasil: elogiou a forma democrática como foi conduzida, mas espera que o novo governo mantenha a estabilidade nos seus compromissos internacionais. Keystone

E o Brasil...?

A Suíça espera que o novo governo brasileiro coloque a luta contra a corrupção como uma de suas prioridades e insiste que o combate contra esse fenômeno garante a entrada de recursos no país. 

“Nós estamos muito vinculados evidentemente com condições que sejam o mais transparentes e claras possíveis”, disse, ao ser questionado sobre a luta contra a corrupção no Brasil. “Para uma empresa que invista em outro país, o princípio da legalidade, da igualdade, da transparência, que a gente saiba com o máximo de precisão possível que situação a gente vai confrontar, são muito importantes”, apontou. 

“Lutar contra a corrupção é criar condições que permitam aos investidores estrangeiros se instalarem e prosperarem”, defendeu o presidente da Suíça.  

Nos últimos quatro anos, foi a cooperação da Suíça que garantiu alguns dos principais trunfos da Operação Lava Jato. Berna repassou ao Brasil milhares de documentos e informações que resultaram em vastas investigações.  Os suíços haviam identificado mais de mil contas bancárias e ativos superiores a US$ 1,1 bilhão. Parte desse dinheiro já foi devolvido.

Quanto ao futuro das relações entre Suíça e Brasil, o presidente do país alpino deixou claro que espera a manutenção da cooperação.  “Temos uma boa relação com o Brasil. Temos muitas trocas e contatos no plano político, econômico e cultural”, disse. “Eu acho que esse contato vai continuar. Mas, naturalmente, pra isso é preciso que as condições que temos até agora continuem, que essas condições perdurem. Acho que vai ser o caso. Nós vamos observar o que vai acontecer”, ponderou.    

“O Brasil teve uma eleição democrática. Nós estamos muito felizes por essa eleição democrática. Eu acho que precisamos ver o que vai acontecer concretamente”, disse. 

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