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A Suíça não alcançará a independência energética sem a energia nuclear

A estratégia energética da Suíça necessita da energia nuclear. Caso contrário, o país poderia se encontrar na infeliz posição da Alemanha, que é obrigada a depender da Rússia para evitar o risco de apagões, diz Natalia Amosova, consultora da indústria nuclearLink externo.

Este conteúdo foi publicado em 07. julho 2022
Consultora Sênior da Apollo Plus

No dia em que se decidiu que a energia nuclear não teria mais um papel no futuro abastecimento energético da Suíça, muitas pessoas suspiraram aliviadas: nosso país finalmente se beneficiaria da transição para energias alternativas.

“Não é preciso ser um cientista para entender que pode se tornar mais difícil produzir energia o suficiente, principalmente no inverno”

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No entanto, é possível que, em 2017, a população suíça não estivesse ciente de certos aspectos. Em primeiro lugar, o mix energético da Suíça já gerava relativamente poucas emissões de CO2 e, além disso, a Estratégia Energética 2050 se baseia em diferentes hipóteses e em tecnologias e redes que ainda não estão disponíveis.

As tecnologias de armazenamento de energia, por exemplo, ainda precisam evoluir muito para se tornarem mais eficientes e ecologicamente corretas e menos dependentes de metais raros; a rede elétrica, por sua vez, precisa ser adaptada à produção descentralizada de eletricidade; e ainda há simplesmente a questão da disponibilidade de painéis fotovoltaicos, uma vez que a Suíça e muitos outros países terão que comprá-los ao mesmo tempo e em quantidades cada vez maiores.

Então, qual é a vantagem ambiental da nova estratégia em comparação à anterior? Bem, hoje podemos ver, com muito pesar, o exemplo da Alemanha, que, apesar dos bilhões de dólares em subsídios, ainda não conseguiu criar um sistema adequado de fornecimento de energia com baixa emissão de carbono. Na verdade, a Alemanha é o sétimo maior produtor de CO2 do mundoLink externo e o maior da Europa em termos de emissões totais.

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Essa situação é o resultado de uma política energética glorificada. Em vez de eliminar gradualmente o carvão e o gás, desenvolver as energias renováveis e continuar confiando na tecnologia nuclear para a carga de base – um sistema que forneceu à Alemanha eletricidade confiável e segura por décadas –, o país decidiu se tornar dependente da Rússia.

Na batalha entre as energias renováveis e a tecnologia nuclear, foi o gás que, sem ser muito discutido, levou a melhor. Simplesmente foram construídas centrais elétricas a gás e, com o apoio do ex-chanceler Gerhard Schröder e do governo alemão, desenvolveu-se o projeto Nord Stream 2. Quem poderia imaginar que um país que declarou a Crimeia como parte de seu território nacional não seria, de modo algum, um parceiro confiável?

A situação em que a Alemanha se encontra atualmente não é agradável: apesar de todas as suas declarações de apoio à Ucrânia, ela é forçada a continuar financiando as bombas que caem no país. Caso contrário, o preço a se pagar seria um apagão na Alemanha.

Além disso, o Departamento Federal de Proteção Civil considera que a falta de eletricidade representa o principal risco para a Suíça. Em seu relatórioLink externo, publicado pouco antes da pandemia, consta: “A nova análise nacional de risco identifica uma escassez de energia a longo prazo no inverno, uma pandemia de gripe e uma falha na rede de telefonia móvel como os três maiores riscos”.

Ainda assim, tais considerações não levaram a uma reavaliação ou revisão da estratégia energética. Pelo contrário, o foco continua sendo a energia solar. Não é preciso ser um cientista para entender que pode se tornar mais difícil produzir energia o suficiente, principalmente no inverno, quando mais precisamos dela.

A Suíça não conseguirá ficar sem comprar eletricidade do exterior. Evidentemente, aqueles que representam e apoiam a estratégia solar também estão considerando a construção de centrais elétricas a gás para suprir o déficit de eletricidade no inverno. Mas, como de praxe, esse aspecto não tem sido particularmente enfatizado.

Hoje, enquanto cidadãs e cidadãos, devemos nos perguntar o que queremos: um futuro energético incerto com uma proibição dogmática do desenvolvimento da tecnologia e da inovação, que vai na direção oposta ao resto do mundo – e ao bom senso – e faz com que a Suíça dependa das importações de outros países? Ou queremos um abastecimento de energia seguro, limpo e o mais independente possível, com um mix de energia hidrelétrica, nuclear e solar de acordo com os padrões de qualidade suíços?

As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente da autora e não refletem necessariamente a posição da swissinfo.ch.

>> Leia a opinião de Fabian Lüscher, da Fundação Suíça de Energia:

Adaptação: Clarice Dominguez
(Edição: Fernando Hirschy)

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