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"Queremos atrair os estudantes mais talentosos, não os mais ricos"

Carole Achermann, diretora da Escola de Hotelaria de Lausanne (EHL) Julierheme.com
Este conteúdo foi publicado em 10. março 2022 minutos
Philippe Monnier

A Escola de Hotelaria de Lausanne (EHL) atrai estudantes de todas as partes do mundo. Sua diretora, Carole Achermann, explica porque o estabelecimento é considerado um dos melhores em gestão hoteleira.

swissinfo.ch: Quais têm sido os avanços significativos da escola nos últimos dez anos? E quais são as grandes reformas futuras?

Carole Achermann: Nos últimos dez anos, a EHL experimentou um desenvolvimento incrível, particularmente nas áreas de digitalização e internacionalização. Um bom exemplo é a inauguração do nosso novo campus em Singapura.

Nosso maior desafio para o futuro será o de desafiar o status quo. Para isso, iremos concentrar-nos em quatro eixos principais: o desenvolvimento da nossa oferta de formação e de aprendizagem ao longo da vida, a intensificação da nossa cooperação com as partes interessadas do setor hospitaleiro e a continuação do nosso trabalho na área da responsabilidade social das empresas e na nossa transformação digital. Este último ainda está em estágio inicial. 

Série: Mulheres no comando 

As mulheres ainda são amplamente sub-representadas nos escalões mais altos da economia. Por exemplo, apenas 13% dos cargos de direção das 20 empresas listadas no principal índice da bolsa suíça, o Swiss Market Index (SMI), são ocupados por mulheres. Nesse aspecto, a Suíça não tem um bom desempenho para os padrões internacionais. Ao longo deste ano, a SWI swissinfo.ch decidiu dar voz a gestoras de empresas suíças que atuam em todo o mundo. Essas representantes da economia suíça discutem os desafios mais urgentes de seus negócios atualmente, desde a crise do coronavírus até o lugar da Suíça na economia global.

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swissinfo.ch: Há uma infinidade de escolas de gestão hoteleira em todo o mundo. O que distingue o grupo EHL de seus concorrentes?

C.A.: Fundada em 1893, a EHL foi a primeira escola desse tipo no mundo. Ademais, nos rankings internacionais, ocupamos sempre posições de destaque. Por exemplo, a partir de 2019, os prestigiados QS World University RankingsLink externo consideram-nos a melhor universidade do mundo na área de gestão hoteleira. Na Suíça, estamos entre as cinco melhores universidades em gestão empresarial.

"Nos últimos cinco anos, aceitamos em média apenas 30% das candidaturas"

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Além disso, um quarto de nossos ex-alunos ocupa cargos de direção executiva ou possui seus próprios negócios. E metade deles atua fora do setor hoteleiro, o que sublinha o aspecto geral da nossa formação e as múltiplas facetas da nossa concepção de hospitalidade.

swissinfo.ch: Cerca de metade dos seus professores não tem doutorado. Isso contrasta com as renomadas universidades tradicionais que contratam apenas acadêmicos puros...

C.A.: Na EHL, o corpo docente é composto por acadêmicos e professores pesquisadores, bem como por profissionais da indústria. A nossa educação dupla, tipicamente suíça e muito orientada para a prática, é um dos nossos principais trunfos. O nosso restaurante gastronômico, Le Berceau des Sens, é um bom exemplo disso: este estabelecimento culinário localizado em nosso campus de Lausanne não só foi galardoado com uma estrela Michelin como é, sobretudo, um restaurante escolar para a formação de nosso corpo discente.

swissinfo.ch: Muitas escolas de gestão consideram a baixa taxa de admissão na EHL como uma marca de seu sucesso. Qual é a taxa de aprovados na EHL?

C.A.: Em média, nos últimos cinco anos, aceitamos apenas cerca de 30% das candidaturas, uma vez que recebemos um número crescente de inscrições de qualidade de todo o mundo. No entanto, a cada ano recebemos cada vez mais alunos, tendo o cuidado de manter a diversidade do nosso corpo discente, pois não desejamos ter uma nacionalidade dominante entre eles.

Carole Achermann: "a Suíça é conhecida mundialmente por suas escolas de gestão hoteleira". Julierheme.com

swissinfo.ch: Para um estrangeiro, o custo total de um bacharelado de quatro anos na EHL é de 160 mil francos suíços. A EHL tem como alvo principalmente filhos de famílias ricas?

C.A.: Nosso objetivo é atrair e selecionar as alunas e alunos mais talentosos de todo o mundo, não os filhos das famílias mais ricas. Para os estrangeiros, os custos totais são certamente elevados, mas correspondem aos nossos padrões de qualidade e aos custos reais de nossa educação e de nossas várias instalações.

O montante de 160 mil francos suíços é também comparável ao que deve ser gasto em uma boa educação em uma universidade privada nos EUA. A fim de ajudar financeiramente algumas alunas e alunos, criamos um sistema de bolsas de estudo e financiamento estudantil.

Para nosso alunato suíço (ou aqueles elegíveis segundo os critérios da Universidade de Ciências Aplicadas e Artes da Suíça Ocidental, HES-SO), os custos totais chegam a cerca de 80 mil francos, pois recebemos subsídios do governo. Este valor destina-se principalmente a despesas relacionadas com alojamento e alimentação.

swissinfo.ch: Se a filha ou filho de um magnata hoteleiro se candidatar a um curso de graduação na EHL, suas chances de admissão são praticamente de 100%?

C.A.: Nosso sistema de admissão compreende vários critérios, incluindo notas do ensino médio, proficiência em inglês, nossos próprios testes e várias entrevistas de seleção. Temos requisitos acadêmicos definidos em parte pela HES-SO e não podemos de modo algum derrogá-los. Não obstante, é provável que um candidato de uma família hoteleira tenha adquirido certas competências graças à sua origem familiar; nesse sentido, suas chances de admissão são, sem dúvida, maiores.

swissinfo.ch: A EHL acaba de abrir seu primeiro campus no exterior, em Singapura. Existe o risco de que o caráter suíço da EHL seja diluído?  Há planos para outros campi fora da Suíça?

C.A.: Para uma escola internacional como a EHL, um campus na Ásia foi uma escolha óbvia. Fiéis à nossa proximidade com os agentes do nosso setor, vamos onde o mercado nos diz para ir. Além disso, muitos dos nossos ex-alunos trabalham na Ásia; só em Singapura, contamos 150.

“Para uma escola internacional como a EHL, ter um campus na Ásia foi uma escolha óbvia”.

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Em relação ao nosso novo campus asiático, as respostas iniciais são excelentes, apesar dos desafios impostos pela pandemia. A abertura de outros campi no exterior não está na ordem do dia. Finalmente, não receamos uma redução do caráter suíço de nossa instituição, porque nosso campus asiático é um complemento e de modo algum substitui nossos campi na Suíça.

swissinfo.ch: A Suíça é conhecida mundialmente por suas escolas de gestão hoteleira. No entanto, parece que o senso de hospitalidade é mais forte em alguns países asiáticos do que na Suíça.   

C.A.: De fato, em algumas nações asiáticas, o grau de polidez é realmente excepcional. Contudo, acredito que muitos países podem aprender com a notável experiência suíça em termos de eficiência gerencial e precisão nos processos. Assim, os estudantes da Ásia têm todo o interesse em se beneficiar de uma educação na EHL.

swissinfo.ch: O conselho administrativo da escola é bastante suíço, até vaudense. Isso não é um pouco surpreendente para um grupo tão internacional?

C.A.: Como somos uma fundação suíça localizada no cantão de Vaud, bem como uma universidade nacional, é normal que tenhamos uma forte representação vaudense-suíça. Isso também nos permite enfatizar nossos valores nacionais no campo da hospitalidade. Além disso, embora os membros de nosso conselho administrativo sejam principalmente suíços, a maioria desses membros possui experiência internacional significativa. Por fim, contamos também com um conselho consultivo internacional que inclui personalidades e líderes de todo o mundo.

swissinfo.ch: Quais são suas principais contribuições para o grupo EHL, dado que a senhora não é do mundo da gestão hoteleira?

C.A.: Com efeito, não sou do ramo hoteleiro. Em minha opinião, contudo, isso é uma vantagem porque me permite ter uma visão de fora do nosso grupo. Meus principais pontos fortes são a capacidade de ouvir e de injetar energia em nossas equipes. Também me empenho ativamente a fim de aperfeiçoar nosso ambiente e processos de trabalho para que as múltiplas competências e conhecimentos de todos os funcionários possam ser combinados de maneira ideal.

Trago também competências nas áreas de gestão internacional, responsabilidade social empresarial e inovação. E, como empresária, também me orgulho de apoiar o desenvolvimento da EHL Innovation Village, que reúne mais de trinta start-ups promissoras no setor de hospitalidade.

swissinfo.ch: Quais são seus hotéis favoritos no mundo?

C.A.: São tantos! Em geral, gosto muito de hotéis que colocam o hóspede no centro das suas preocupações e oferecem muitas oportunidades desportivas. E isso independentemente do número de estrelas!

Adaptação: Karleno Bocarro

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