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"A neutralidade favorece o papel humanitário da Suíça"

Para a deputada-federal Barbara Steinemann, do Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) a imprensa estrangeira classificou corretamente as sanções da Suíça como violação à sua neutralidade. "Neutralidade precisa de coragem", analisa.

Este conteúdo foi publicado em 24. março 2022 minutos

Em 1859, Henri Dunant viajava para visitar o imperador francês Napoleão III, quando testemunhou a Batalha de Solferino e San Martino. Nela, seis mil soldados foram mortos e 25 mil feridos em apenas um dia. Em 1863, esse homem de negócios e o general Dufour fundaram o que mais tarde seria conhecida como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICVLink externo).

"Em princípio, a neutralidade significa não tomar parte em disputas e controvérsias políticas ou ideológicas. Ao não tomar partido em conflitos, preservamos a confiança de todos", escrevem os estatutos do CICV.

Na Suíça, a neutralidade tem sido um preceito de Estado aplicado há muito tempo e que está profundamente enraizado: 90% do eleitorado suíço vota regularmente a favor da manutenção da neutralidade.

Para nós, neutralidade significa segurança, mas também algo que beneficia todo o globo. Em um mundo cheio de guerras e conflitos, precisamos ter um território neutro, onde as partes beligerantes possam falar umas com as outras sem armas. Isso é - ou seria - a Suíça neutra com seus chamados "bons ofícios": uma esperança de paz em um mundo que infelizmente voltou a ter uma guerra.

Neutralidade exige. É preciso coragem para exercer contenção em tempos de guerra e não se deixar arrastar pela corrente das emoções.

Demonstrar sua própria postura, dar o exemplo, defender a consciência nos protestos, estar do lado certo: tudo isso pode ser obtido de graça. A neutralidade, por outro lado, requer força e firmeza. O mundo não pode ser simplesmente se dividir entre o bem e o mal.

No entanto, após hesitação inicial, a Suíça adotou as sanções econômicas aplicadas pela União Europeia (UE) contra a Rússia. Aparentemente, os países do G7 colocaram o governo suíço sob forte pressão.

Como cidadãos, é claro, todos condenamos o ataques de Putin à Ucrânia. Mas como Estado, não deveríamos ter tomado uma posição. Pelo contrário: a Suíça deveria ter se limitado a impedir que outros países contornassem as sanções.

Portanto, não é surpreendente que a imprensa estrangeira classifique esta ação como uma violação à sua neutralidade e ressalte que a Suíça tenha tomado partido na guerra. Eu acredito que ela tem razão.

Na Idade Média, as pessoas falavam de "bloqueio da fome". Países tentam punir autocratas com sanções, mas elas terminam sempre afetando a população. Nunca foi possível erradicar guerra, terror e combater regimes injustos desta forma.

Infelizmente, a Suíça colabora agora com a guerra econômica movida contra a população russa. Isso ao contrário da ONU que, de outra forma, nunca hesita a sancionar países e governantes se estes violam os direitos humanos. A razão está no direito de veto da Rússia, que pode sempre bloquear sanções contra si própria.

Falando das ONU e seu Conselho de Segurança: na minha opinião, a Suíça não deve ter um assento neste órgão. Pois manter a neutralidade e ter um assento no Conselho de Segurança da ONU se contradizem.

O Conselho de Segurança decide sobre a guerra e a paz, impõe sanções, emite mandatos vinculativos. A Suíça deve cumprir estes mandatos, mesmo que se abstenha de votar em caso de conflito.

As decisões do Conselho de Segurança muitas vezes não correspondem a valores humanitários ou democráticos, mas estão sujeitas a maiorias de poder.

É claro para mim que outros podem analisar essa situação de uma forma diferente. A neutralidade oferece espaço a interpretações. Mas a paz só acontece na mesa de negociações. Isto é um trabalho de construção de confiança e trabalho nos detalhes.

A Suíça, com seus bons ofícios, deve agora fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a terminar com essa guerra. Mais cedo ou mais tarde, deve haver uma solução política. Mas sem Putin, ela não será encontrada. Porém os bons ofícios precisam de credibilidade. Será que a Suíça não a desperdiçou levianamente?

Adaptação: Alexander Thoele

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